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36º CONSINASEFE: resumo do 2º dia

Postagem atualizada em 06/09/2024 às 23h20

Segundo dia do 36º CONSINASEFE contou com duas mesas temáticas debatendo tanto Combate às Opressões quanto Condições de Trabalho e Saúde de Trabalhadoras(es).

Atividades das eleições que acontecerão amanhã, como reuniões de coletivos e movimentos para formação de chapas, também foram destaque na programação.

O evento reúne, até domingo, 730 participantes vindas(os) de todo Brasil, dentre delegadas(os), observadoras(es), convidadas(os) e crianças do Sinasefinho.

Manhã – Mesa Temática e Credenciamento

Mediada por Katiuscia Pinheiro (secretária de combate às opressões), Eurico de Souza (secretário-adjunto de combate às opressões) e Maíra Martins (secretária de políticas para as mulheres), a terceira mesa do Congresso Eleitoral teve cinco palestrantes: Andréa Moraes (professora do IFAL e secretária-adjunta de políticas para as mulheres do SINASEFE); Elizeu Lopes (Chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério da Justiça e Segurança Pública); Daniella Veyga (vice-presidenta da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-MT); Luísa Senna (professora do IFBA); Crystyna Tapuya (artivista e professora do IFRN).

Andréa Moraes pautou a luta contra a opressão machista e misógina, passando por aspectos mais amplos, da sociedade em geral, e também do âmbito sindical, apresentando vários questionamentos sobre a construção de elementos materiais para o combate às opressões. Ela iniciou sua fala pedindo que as mulheres presentes se manifestassem levantando as mãos e destacando o feito histórico das mulheres ao conquistar a paridade de gênero na participação de um CONSINASEFE. “Sabemos os caminhos que trilhamos para chegar até aqui e sabemos que paridade é uma conquista importante, mas ela não é a única necessária e não garante o fim das violências, das explorações, é uma mediação, mas não é o fim em si mesma. Precisamos definir muito bem quais são as nossas tarefas e com o que precisamos nos comprometer”, destacou Andréa. Ela pautou ainda a questão da sobrecarga das mulheres com os cuidados e ressaltou que quem diz que ‘o Sinasefinho é caro’ é por que está acostumado a ter o trabalho do cuidado de forma gratuita. Ela finalizou sua intervenção fazendo a leitura da letra de uma canção que conheceu no Encontro Regional de Mulheres Centro-Oeste, realizado em outubro de 2023.

Mulher de Luta
Canção de Dandara Manoela

Andava na rua, debaixo de Sol, vi Maria
Teu rosto marcado pelo tempo já dizia tudo
Que destino é esse? Que palavra é essa?
Que destino tem Maria que trabalha, trabalha, trabalha
Mas não tem destino certo?

Se tem pão na mesa ou não
Se morre amanhã com bala perdida
Indigente, sem cova certa
Se morre na fila do hospital público
Sem convênio privado

Se o traste que mora lá em casa
Lhe dá um tapa, um soco, um murro
Pra onde é que vai?
Pra onde é que vamos?

E essas Marias que cá estão?
Pobres, aborteiras e putas
Destino de Maria é ser Maria de luta!

Maria, mulher de luta
Mulher de luta, sim, senhor
Maria, mulher de luta
Mulher de luta, sim, senhor

Ah, se todas essas Marias se ajuntar
Sapatão, trans, viadas, pretas, brancas, amarelas
Pedras e sonhos nas mãos, punhos erguidos
Seremos todas, todas, todas Marias da revolução

Mulher de luta, sim, senhor

Elizeu Lopes discorreu de forma descontraída e objetiva sobre a dimensão material dos desafios para transformar a realidade e chegar em políticas públicas que sejam de fato igualitárias. Envolvendo o plenário na leitura sobre direitos fundamentais, ele defendeu a importância de defender a igualdade e a diversidade. “Isso está esculpido na Constituição do Brasil. Mas se isto está no nosso ordenamento jurídico, por que não acontece? Precisamos criar os elementos para coibir as opressões, já que essas diferenças são fundantes na sociedade em que vivemos. As políticas públicas são fundamentais para tratar e combater as desigualdades”, questionou Elizeu. Ele também compartilhou histórias de sua vida e infância na periferia de SP, citando uma tia que faleceu aos 104 anos, 32 anos após a “abolição” formal da escravidão, destacando que materialmente a sociedade não está estruturada para reparar os 350 anos do flagelos na história de violência que a população negra sofreu e ainda sofre. Ele comentou ainda que a luta não é de negros contra brancos, é contra parte da sociedade que construiu as desigualdades e criou formas de se apropriar das riquezas que foram construídas pelos negros.

Confira a apresentação de slides usada por Elizeu:

File name : Apresentacao_36_CONSINASEFE_ELIZEU.pdf

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Durante a mediação, Eurico comentou a organização e a luta das pessoas LGBTQIAPN+ no SINASEFE a importância da presença de pessoas deste segmento em todas as chapas das eleições da Direção Nacional que será eleita no CONSINASEFE.

Daniella Veyga lembrou de lutas das pessoas LGBTQIAPN+como, por exemplo, ter que ir para justiça para poder doar sangue. “Sem educação a gente não tem nada, sou a primeira pessoa da minha família a terminar o ensino superior e reafirmar o poder transformador de mudar a realidade pela Educação” ressaltou. Ela também comentou o histórico de lutas das pessoas trans, lembrando que o segmento tinha receio de falar das ações que afirmativas, como as cotas em universidades, sem a garantia de que as pessoas trans conseguissem terminar ao menos o ensino médio. Falou também de condições básicas como o acesso à dignidade e ao emprego, sugerindo a elaboração de campanhas de empregabilidade para segmentos como as pessoas trans e mulheres mães solo. “Precisamos conscientizar estudantes sobre a importância de seu papel, levando mais pessoas travestis a ocupar espaços nas profissões e mudar a realidade concreta do país já que também merecemos estar em todos lugares, não voltaremos para armários nunca mais, vamos colorir o mundo!” finalizou.

Luisa Senna iniciou sua intervenção descrevendo o ambiente físico do Congresso e falando brevemente das sobreposições de opressões e o cenário do enfrentamento das Pessoas Com Deficiência (PCDs). “Ver um corpo diferente não significa que vc está vendo uma pessoa PCD”, destacou ao comentar o conceito de PCD. “Não é o fato de usar muletas que me faz PCD, mas não ter uma rampa para subir neste palco sim”, comentou sobre a falta de acessibilidade no evento. Pautando o capacitismo, ela perguntou quem já conversou com um cego falando alto, e explicou que este é um exemplo de capacitismo. Apresentando alguns dados relativos ao universo PCD, ela destacou que 75% das crianças com deficiência no mundo não têm acesso a educação inclusiva e de qualidade, e 20% das pessoas mais pobres do mundo possuem algum tipo de deficiência. Ela finalizou sua fala abordando as carreiras TAE e EBTT, pautando os tempos de permanência segundo a Lei 142/2013 e o PL nº 454/2014 que piora a situação das PCDs, pautando ainda como a Lei nº 8112/1990 deveria ser aplicada para pessoas PCD e como anda acontecendo na prática nas instituições de educação.

Confira a apresentação de slides usada por Luísa:

File name : Apresentacao_Luisa_36Servidor-PCD-na-rede-Federal.pdf

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Durante a mediação, Maíra lembrou a o caso da professora Emy Virgínia, do IFCE, e a luta contra transfobia encampada pelo SINASEFE e pelo Sindsifce. Êmy foi perseguida e demitida, mas após a mobilização e denúncia pública do caso, ela foi readmitida. Relembre aqui o caso.

Crystyna Tapuya, saudou as pessoas presentes e e explicou que se identifica como Tapuya Tarairiú em contexto urbano de retomada. Ela lamentou o apagamento e a invisibilidade que a comunidade indígena enfrenta, destacando que o Brasil é terra indígena. Ela falou da importância da mídia indígena, destacando a luta contra o marco temporal. “Somos atemporais!”, defendeu. Utilizando diversas vezes a palavra Brendipoo (obrigada/gratidão na língua brobó do povo yndýgena tapuya tairariú), ela comentou a dificuldade de aprender a língua indígena, mas a possibilidade de usar esse aprendizado como uma forma de combate às opressões. Ela saudou a memória de Nego Bispo, que participou do ENNIQ e foi uma importante voz da luta quilombola. Pautando a temática da educação, ela ressaltou que os saberes de negras(os) e indígenas ainda ficam à margem e no centro ainda estão as concepções europeias. “É importante compreender a Lei nº 11645/2008 e a Lei nº 10639/2003 como território de descolonização, entretanto, pesquisas recentes apontam que apenas 21% das escolas aplicam de fato as leis” explicou Crystyna. Ela convidou as(os) participantes para cantarem e dançarem a canção do grupo Caboclas da Mata:

Divulgou também a publicação Álbum biográfico Guerreiras da Ancestralidade : Mulherio das Letras Indígenas, disponível abaixo:

File name : ALBUM-BIOGRAFICO-2022_BAIXA.pdf

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Katiuscia Pinheiro, também durante a mediação, saudou a memória e a construção das santidades indígenas e falou da simultaneidade da luta pelo estado laico e pelo direito às manifestações espirituais indígenas.

Convidados(as) por Crystyna, Nadson Santos (Sinasefe Ifba) e Therê Pôtira (Sinasefe Ifba) reforçaram a denúncia do extermínio e do genocídio do povo indígena que ainda persiste e fizeram um apelo para que todas(os) se somem para fortalecer a luta indígena. Usando um Zabelê, instrumento musical indígena, Nabson lembrou a Luiz Gonzaga entoando a canção Asa Branca.

Credenciamento

A Comissão de Organização, com apoio do setor administrativo do SINASEFE, informou os números finais do Credenciamento do evento:

  • 67 seções sindicais participam do 36º CONSINASEFE, com 541 delegadas(os), 133 observadoras(es), 16 convidadas(os) e 40 crianças e adolescentes do Sinasefinho, totalizando 730 participantes.
  • A região Norte credenciou 52 delegadas(os), o Nordeste conta com 177 delegadas(os), a região Centro-Oeste 46 delegadas(os), do Sudeste se credenciaram 161 delegadas(os) e da região Sul foram 105 delegadas(os).
  • O Plenário do 36º CONSINASEFE avaliou um recurso de credenciamento de integrantes da seção sindical IFFluminense para credenciar dois delegados(as) que constavam como suplentes e passaram a constar como titulares.
  • O Plenário do 36º CONSINASEFE também avaliou um recurso de credenciamento de integrante da seção Sertão-RS, que constava como observadora e passou a constar como delegada.

Tarde – Mesa temática, regras de debates eleitorais e reunião de coletivos e movimentos

A última mesa temática do 36º CONSINASEFE pautou Condições de Trabalho e Saúde de Trabalhadores(as). A atividade teve a presença de Bruno Chapadeiro, psicólogo e professor adjunto na UFF; Fabiane K. S. Machado, psicóloga do trabalho na Secretaria de Saúde do Trabalhador do SINDISPREV-RS; Jotapê (JP), TAE da Unicamp, diretor da CTB Nacional e da CSPB e Juliene Zanardi, docente do Colégio Militar do Rio de Janeiro CMRJ.

Bruno Chapadeiro destacou a importância do tema no Congresso e a situação alarmante de sobrecarga nas escolas. “Agora poucas pessoas fazem o trabalho que deveria ser feito por várias, falta reconhecimento e sobram assédios. Além disso, enfrentamos um vilipêndio da imagem de quem faz a coisa pública, o que favorece os assédios que estão cada vez mais se tornando instrumentos de gestão” ressaltou. Ele falou também do teletrabalho e da dificuldade de provar os assédios no contexto remoto. Comentou também o legado de Margarida Barreto que se dedicou aos estudos dos assédios e suas interseccionalidades. “Tanto o adoecimento quanto o cuidado são coletivos, mas as saídas apontadas são essencialmente individuais, quais possibilidades de promover mudanças podemos construir?” questionou.
Ele falou ainda da deslegitimização dos processos de adoecimento, com pessoas se fazendo presentes no trabalho mesmo que adoecidas, além de explicar que o bornout não é apenas a estafa e a despessonalização, mas também uma também falta de identificação com o trabalho, com maior incidência nas profissões do cuidado (como saúde e educação). “Não são apenas as pessoas que estão adoecidas, é o trabalho, e ele precisa de modificações. Força e coragem, não desanimem, estamos juntos”, finalizou.

Juliene Zanardi, explicou que as escolas vinculadas ao Ministério da Defesa são essencialmente escolas de educação básica, e não de formação de exércitos e de militares em geral. Ela discorreu sobre a estrutura das instituições, os desafios do cotidiano e os efeitos provocados na prática docente. “Muitas decisões são tomadas por gestores militares geralmente alheios aos processos educacionais, servidoras(es) civis são vistos como corpos estranhos dentro das escolas” comentou. “Enfrentamos desrespeito às cargas horárias, às folgas e feriados, extrapolação de carga na semana, condições de trabalho precárias: como as chamadas saunas de aulas, quando somos obrigados a enfrentar calor em função de suposta economicidade” enumerou. Sobre as dificuldades na prática docente, ela comentou que programas pedagógicos muitas vezes são feitos fora da escola e o papel do professor se converte num “dador” de aula. “Falta destinação de carga horária para participação em pesquisas e falta a validação dos estudos feitos” ressaltou. “Pior que o sofrimento que passamos é o medo que vira acomodação e inércia, com pessoas que negam a realidade e se abstém de fazer as críticas. Avançamos com passos de formiguinha, comemorando as pequenas vitórias, como foi o caso de enfrentar a ilegalidade da repartição das férias de servidores em três períodos”, finalizou Juliene.

Fabiane Machado explicou o trabalho do Sindicato dos Trabalhadores Federais da Saúde, Trabalho e Previdência no Estado do Rio Grande do Sul (Sindsprevs-RS), onde trabalha assessorando a direção.
“Todo caso precisa de acolhimento, mais que técnica e ciência, o acolhimento e o afeto são fundamentais no cotidiano”, defendeu ela comentando a realidade no sindicato e convidando as(os) participantes a se abraçarem e acolherem as(os) colegas próximos. Ela comentou que diante da falta de acesso aos dados sobre adoecimento, a entidade desenvolveu uma metodologia de registro dos afastamentos e acompanhamento dos casos. Ela lembrou também do trabalho remoto na pandemia de COVID-19: “Trabalhamos como se não houvesse amanhã, quase numa internação familiar domiciliar, mas com trabalho junto”. Ela citou a greve e a mobilização dos servidoras(es) da previdência social que denuncia também a precariedade das condições de trabalho de servidores, além dos acordos não cumpridos. “Temos que nos olhar e trabalhar coletivamente para defender melhores condições, a saída é e sempre foi pela luta coletiva, não se acuem, vamos para a luta!”, defendeu Fabiane.

Confira a apresentação completa de Fabiane:

File name : 36CONSINASEFE-2024_fabiene.pdf

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Finalizando as intervenções da Mesa 4, Jotapê pautou a importância da unidade da educação nas lutas e nas ruas para defender a saúde e as condições de trabalho da categoria. Ela ressaltoua importância de compreender em que ambiente laboral vivemos, além de cultivar atitudes mais pacientes e propositivas nos espaços. “A lógica do capital de que quanto mais os trabalhadores produzem, mais são pressionados para produzir mais é extremamente adoecedora”, ressaltou. “Precisamos debater o que queremos e o que reivindicamos para propor, por exemplo enquanto Fonasefe, medidas a respeito da saúde de trabalhadoras(es). Para além dos debates em plenárias e congressos, é preciso pautar no cotidiano da atuação dos sindicatos a defesa de melhores condições de trabalho e de saúde”, finalizou.

Informe da Comissão Eleitoral

A Comissão Eleitoral do 36º CONSINASEFE apresentou as regras para os debates eleitorais (da Direção Nacional, Conselho Fiscal e de Ética), que foram aprovadas pelo Plenário.

Confira todas as regras abaixo:

File name : debateregras.pdf

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Reuniões de coletivos e movimentos

Terminando o segundo dia do 36º CONSINASEFE, aconteceram reuniões dos coletivos e movimentos para formação de chapas à Direção Nacional e definição de indicações para candidaturas aos Conselhos de Ética e Fiscal. Esse momento foi oportuno para que as bases conheçam mais os grupos que dirigem o sindicato e os que se apresentam como novas alternativas, podendo direcionar melhor os votos e também, caso queiram, ingressar em alguma chapa ou candidatura para Conselho.

Fotos

Veja abaixo as imagens disponíveis em nossa galeria de fotos:

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Tarde

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