A infindável Revolta de Stonewall

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A infindável Revolta de Stonewall

Postagem atualizada em 28/06/2015 às 19h58

Não somos minoria.

Costumam nos chamar de minoria. Somos “minoria” até mesmo para sermos respeitadxs e lembradxs. Somos “minoria” desde o parlamento até as entidades de classe. Somos “minoria” nos espaços que reivindicam o marxismo, nos espaços de esquerda, nos movimentos que buscam a mudança estrutural da sociedade.

Somos “minoria” quando o capital nos defende argumentando que temos “maior poder de compra”, utilizam a ótica de “casal sem filhos”.

Não somos minoria.

No dia 28 de junho de 1959, gays, lésbicas, travestis e todxs que não se encaixavam no padrão heteronormativo binário, cansadxs das violentas batidas policiais, resolveram não mais se calar e iniciaram uma grande rebelião. Foram 40 dias de protestos e batalhas.

Hoje, 28 de junho de 2015, podemos assistir com grande entusiasmo a maior rede social do mundo sendo inundada pelas cores dxs guerreirxs de Stonewall. Em um cenário de puro fascismo no mundo cada passo deve ser comemorado, não há vitória nas causas dos Direitos Humanos que não seja uma vitória da humanidade.

Andamos muito, mas ainda é pouco. Passamos pelo período em que professorxs homossexuais poderiam por lei ser demitidxs, vivenciamos a onda de terror com a AIDS desmobilizando o movimento, voltamos largos passos para trás quando projetos de lei que proíbem a educação sobre gênero em escolas municipais e estaduais são aprovadas.

Vergonhosamente andamos para trás quando piadas homofóbicas são proferidas nos nossos espaços de militância sindical.

Não somos minoria.

Costumeiramente levantamos a bandeira do orgulho LGBT para defender que pessoas não devem ser assassinadas e violentadas mas a nossa defesa vai além das mortes brutais pois há a morte em vida que pode ser tão ou mais cruel. A violência simbólica não produz números, mas deixa as cicatrizes do medo.

Estamos de prontidão para defender que “todo indivíduo tem direito à vida” (Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948) e sob essa perspectiva toda a comunidade LGBT assim como todas as mulheres, tods xs negrxs, comunidade indígena e toda a população historicamente oprimida tem o direito de ir e vir, optar por uma trajetória profissional, ter acesso a políticas públicas, participar de processos políticos do seu interesse, fazer parte de associações, ocupar cargos de decisão política, constituir família, estudar, produzir, ter voz ativa, viver, e… Ser.

Não somos minoria.

Lésbicas, Gays, Homossexuais, Travestis, Transgêneros, Transexuais, Drags, Croosdressers, Agêneros, Bissexuais também compõem a massa da classe trabalhadora. Oprimida pela família, pelos colegas de trabalho e militância sindical, pela sociedade, pelo Estado e pelo capital.

A homofobia, diferentemente do racismo, do machismo e da misoginia tem seus direitos “aceitos” pelo senso comum enquanto a homofobia sequer é institucionalizada. Mesmo a narrativa legalista dos Direitos Humanos não nos protege. De doença à minoria, assim caminhamos lentamente para que sejamos vistxs como dignxs de cidadania. De perversos pederastas ao “status” de doentes. De bruxas ao “status” de fantasia sexual.

Não somos minoria.

Fazemos parte da classe trabalhadora lutando contra toda e qualquer opressão. Buscamos a valorização da diversidade. Queremos provar que a violência não faz parte de um Estado Democrático de Direito. Desejamos perder o primeiro lugar no ranking de violência homofóbica que ocorre em todo o mundo sendo que o México, segundo colocado, apresenta metade dos casos de violência que o Brasil.

Por um Estado que não se ajoelhe diante da bancada BBB, do fundamentalismo neopentecostal, que não se iniba frente às forças conservadoras, hoje e sempre somos todxs Izabelly, Cláudio, Laura, Sandoval, Kauane, Gilmar, Kelly, André, Laís, Rafael, Andréia, Douglas, Karol, Humberto, Dorival, Ezequiel e todxs os que cometeram o grande pecado de viver em uma sociedade movida pelo ódio e disseminação do medo como o melhor controle social. Sem amparo do Estado e pelo direito inalienável de ser, elxs foram brutalmente violentadxs e assassinadxs somente no mês de junho de 2015 no Brasil.*

Não somos minoria, somos o incômodo, somos portanto a própria revolução!

*Dados fornecidos pela Polícia Civil e Militar que não reconhecem a identidade de gênero e orientação sexual como motivação criminal.

Por Moema Carvalho, militante da área de direitos humanos e coordenadora geral do SINASEFE NACIONAL