A invisibilização da diversidade sexual no ambiente educacional

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A invisibilização da diversidade sexual no ambiente educacional

Postagem atualizada em 28/06/2017 às 19h58

Discentes hoje podem se deparar com diferentes metodologias de ensino-aprendizagem, novas abordagens pedagógicas, o Dia da Consciência Negra nas escolas e até novas formas de celebrar o 8 de março. Será que ainda veremos a celebração nos espaços educacionais do Dia do Orgulho LGBT?
Precisamos abrir o debate sobre a diversidade no ambiente educacional. De forma urgente, levantar a bandeira do Estado laico.
Na heterossexualidade compulsória dentro de todos os espaços que ocupamos convivemos com um silenciamento de uma significativa parcela da população brasileira, erroneamente chamada de minoria, sobre suas famílias, diversidades e especificidades. O Ministério da Educação (MEC) conseguiu contemplar nos livros didáticos as relações de gênero e étnico-racias e até tentou levar o tema adiante, mas o famigerado “kit gay” – amplamente divulgado pela mídia com esta nomenclatura – foi derrotado por um governo e uma população homofóbica, deixando à margem o debate sobre binarismo, homofobia e diversidade sexual, tudo isso em pleno século XXI.

O silêncio é uma estratégia dominante
Não estamos nos propondo a analisar a origem da homossexualidade e todo o espectro da comunidade LGBT ou a heterossexualidade como padrão cristão, mas sim discorrer sobre as violências geradas, a hostilidade permanente e o papel da escola em derrubar a hierarquia da ordem sexual.
Uma análise do sistema família nos livros didáticos nos estarrece diante dos números de violência praticados contra LGBTs no Brasil. Encontramos nos discursos de gestores e nos livros uma ênfase no papel da família e da escola na formação cidadã, mas aqui leia-se “família estruturada”, onde há pai e mãe na conjugalidade e, se possível, um ou dois irmãos, não mais do que isso. Estão pensando na estrutura familiar perfeita, lembrem-se. Alem disso já não há a representação da maioria das famílias brasileiras que, juntamente com a escola, tem formado os “cidadãos de bem”.
O tema da diversidade sexual foi incorporado pelos livros didáticos no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), no Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) e pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), trabalho feito com consulta à população, educadores e educadoras mas que ainda deixa de fora o debate sobre as violências advindas das representações de família e a laicidade do Estado.
Devemos, pautaremos e incluiremos, como entidade de servidores e servidoras da Educação, a homofobia geral e específica e a homofobia cognitiva e social. Estamos lidando com o silenciamento, ausência de conteúdos e imagens relacionados à diversidade sexual nas concepções de família branca, heteronormativa e de classe média. Onde estão nos nossos livros didáticos, na sala de aula e nos nossos espaços educacionais as famílias monoparentais, chefiadas por mulheres, a adoção, famílias intergeracionais, multirraciais e homoparentais?

O silenciamento é a manutenção do preconceito
Podemos ainda contrastar com o conteúdo exibido pelas novelas brasileiras – ainda a maior fonte de informação da população – a diversidade sexual ausente nas nossas bibliotecas.
Ainda podemos recorrer à cinematografia – Billy Elliot, por exemplo – para fomentar o debate e romper com o binarismo do masculino e feminino tão caricaturado em nossa sociedade.
Somos signatários e marca presença na nossa saudosa Constituição a liberdade individual, respeito à dignidade humana, pluralismo e diversidade, sendo assim devemos defender a Constituição tanto nos avanços da classe trabalhadora quanto nas políticas de erradicação da desigualdade em todo o seu espectro.
Comecemos pelos nossos espaços de atuação.
Que neste Dia Internacional do Orgulho Gay e da Consciência Homossexual possamos analisar as subjetividades fabricadas nas escolas, rompendo o padrão normalizador dos nossos campi para tornarmos possível uma educação pautada no reconhecimento do outro e suas subjetividades.

Texto escrito por Moema Carvalho, militante da área de direitos humanos e professora do campus Taguatinga do Instituto Federal de Brasília-DF.

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