Relato sobre Cuba e seu regime político

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Relato sobre Cuba e seu regime político

Postagem atualizada em 14/02/2019 às 12h18

Durante viagem à Havana, capital de Cuba, para participações no 2º Diálogo Continental pela Educação e no Congresso Pedagogia 2019, a diretora do SINASEFE, Camila Marques, escreveu um relato em que analisa aspectos do país e do regime político cubano.

Leia abaixo o texto produzido pela coordenadora geral do SINASEFE:

Relato sobre Cuba e seu regime político

Outro relato necessário a se fazer sobre o 2º Diálogo Continental pela Educação e o Congresso Pedagogia 2019 é que foram realizados em Havana, capital de Cuba! Isso porque é preciso destacar que tudo que se passa, que se pensa e, principalmente, que se vive em Cuba passa pela revolução socialista que o país viveu há 60 anos. É fundamental crivar esse marco, inclusive para compreender as questões pedagógicas e políticas que aconteceram nos eventos e foram descritas nos dois textos anteriores (links para eles no início deste parágrafo).

Não se pode olhar para a belíssima educação cubana e querer transpor seu modelo para um país capitalista: a educação cubana é para uma sociedade socialista!

Isso mostra a força e a imponência de uma revolução que possibilita transformações sociais profundas, que muitas vezes queremos fazer em nossa sociedade, tentamos e não conseguimos alcançar. Isso ocorre por uma razão simples: não fizemos uma revolução socialista em nosso país.

A revolução cubana possibilitou que todos os cubanos possuam trabalho. No capitalismo a expressão “pleno emprego” é mentirosa, pois não há capitalismo sem desempregados – os quais possibilitam rebaixar os salários e precarizar as condições de trabalho dos que estão empregados (ver em “Exército Industrial de Reserva/Superpopulação Relativa” no Dicionário Marxista).

No socialismo se pode e se deve ter trabalho para todos, porque isso aumenta a produção para satisfazer as necessidades coletivas. Essa é uma realidade que dialoga com a educação como formação omnilateral, com a pedagogia voltada para o trabalho em uma perspectiva humanizante – que não é possível enquanto o trabalho é subordinado à relação capital-trabalho.

Pensar na formação do homem novo, como objetivava Ernesto Guevara, militante revolucionário e ex-ministro da economia de Cuba, pós-revolução, não é pensar do ponto de vista individual. Um exemplo disso é o senhor Carlos, representante do Ministério da Educação de Cuba que estava presente no Congresso Pedagogia 2019 e me contou ter quatro formações superiores diferentes (medicina, pedagogia, veterinária e história marxista-lenista). Quando o perguntei porque ter tantas formações superiores, ele respondeu: “porque meu país precisava.”

Não se trata de um exemplo à parte, nem de um altruísmo que partiu do senhor Carlos (que, com orgulho, posou ao lado da foto do comandante Fidel Castro): é uma lógica social diferente da nossa, que só é possível de maneira coletiva em um país que viveu uma revolução socialista.

A revolução cubana proporcionou que todos tenham o que comer. Nenhuma pessoa passa fome em Cuba ou come lixo para sobreviver, todas as famílias cubanas têm uma caderneta que garante a alimentação básica.

Não existem crianças de rua em Cuba. Essa afirmação, inclusive, é parte de um dos discursos famosos de Fidel Castro. Não existem idosos trabalhando para complementar sua renda ou pessoas pedindo esmolas nas ruas. E não é por repressão policial ou porque a assistência social faz qualquer tipo de recolhimento, como ocorre nas nossas grandes cidades, mas porque, com toda dificuldade econômica do país, a socialização do que é produzido não permite que exista miséria.

A revolução cubana possibilitou não somente a erradicação do analfabetismo, mas a criação de um modelo de alfabetização e educação que logo se nota. Os trabalhadores cubanos tem a cultura de ler, acompanham notícias, conhecem e comentam sobre a geopolítica mundial. E não estou falando de trabalhadores da educação, estou falando da mulher que trabalha na chapa na hamburgueria e do homem que fica sentado na praça e depois toca violão.

A revolução cubana possibilitou que a pequena ilha de economia totalmente subordinada às grandes economias imperialistas (87% do controle da economia), que somente 2,3% da população tinha acesso à água potável e saneamento básico assegurado, que até 1959 tinha 85% de energia a querosene, 66% de crianças fora da escola e 43% de analfabetos (referências do livro “A revolução Cubana” da Coleção Revoluções; editora da Unesp) se torna-se referência mundial em saúde, educação, esportes e solidariedade internacional.

Sim, obviamente que há muitos problemas sociais em Cuba, que serão melhor desenvolvidos em outra oportunidade. Entretanto, antes de tratar das insuficiencias, é preciso primeiro entender sua grandiosidade. Principalmente em um contexto que a ultra-direita brasileira tenta destruir a história de luta desse povo e grita em tom ofensivo “vai pra Cuba!”. Essa, certamente, é a melhor coisa que um “coxinha” pode desejar a um ser humano.

Não sabia bem como encerrar esse relato, mas sempre que faltam as palavras certas, nossos poetas entram em cena. O texto a seguir é de Ferreira Gullar:

Você é mais bonita que uma bola prateada de papel de cigarro

Você é mais bonita que uma poça d’água límpida num lugar escondido

Você é mais bonita que uma zebra

que um filhote de onça

que um Boeing 707 em pleno ar

Você é mais bonita que um jardim florido em frente ao mar em Ipanema

Você é mais bonita que uma refinaria da Petrobrás de noite

mais bonita que Ursula Andress

que o Palácio da Alvorada

mais bonita que a alvorada

que o mar azul safira da República Dominicana

Olha, você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro em maio

e quase tão bonita quanto a Revolução Cubana

Camila Marques (coordenadora geral do SINASEFE)

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