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Atividades do mês da consciência negra sofrem ataques no DF

Postagem atualizada em 29/11/2021 às 12h33

Na última quinta-feira (25/11), data de luta pela erradicação da violência contra a mulher, duas educadoras do Distrito Federal foram duramente atacadas por realizarem atividades referentes ao mês da consciência negra. No IFB, o ataque virtual aconteceu durante a roda de conversa sobre Educação Antirracista e Literatura, que contava com palestrantes da Universidade de Brasília (UnB) e da Secretaria de Educação do DF (SEEDF).

A professora María del Pilar Acosta, que conduzia a atividade, relata que tratou-se de um ato organizado, em que vários perfis de homens brancos mais velhos invadiram a reunião, enviando mensagens extremamente violentas e de cunho sexual. Pilar é também dirigente do Sinasefe Brasília e conta que derrubou os primeiros perfis que entraram com essa intenção, porém, com insistência dos ataques, a educadora precisou interromper a atividade e criar uma nova sala virtual, cujo link só foi compartilhado com servidores e estudantes do IFB.

“É importante analisar a violência sofrida por um grupo formado principalmente por estudantes de ensino médio, professores/as e pesquisadores/as, sob o olhar da ciência. O fato de propormos um debate sobre a construção de uma educação antirracista acaba sendo profundamente revolucionário em uma sociedade moldada pelo racismo estrutural. É revolucionário propormos que todas, todes e todos sejamos vistos e respeitados como seres humanos ”, afirmou Pilar.

O IFB já está tomando providências, os dados da transmissão estão sendo extraídos pela equipe de TI, e será registrado um boletim de ocorrência na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC).

Divulgação do evento virtual do IFB que foi invadido

O outro ataque, de cunho parecido, registrado na mesma semana aconteceu no CED 01 da Cidade Estrutural, que é uma escola militarizada. Nas turmas de oitavo e nono anos do ensino fundamental, os estudantes foram convidados por seu professor de história a expressarem reflexões e sensações que o Dia da Consciência Negra desperta por meio de charges encontradas, principalmente, pela internet. Os jovens atenderam ao chamado e um mural na área comum da escola exibiu os resultados desse trabalho.

O tenente que ocupa o cargo de diretor disciplinar da escola, incomodado com alguns dos trabalhos, que abordavam a violência ou mesmo a abordagem policial em relação à população negra, solicitou à vice-diretora, professora Luciana Pain, que esses trabalhos fossem retirados dos murais.

“Nossa escola está situada numa região de periferia, a maioria de nossos estudantes é negra. Eles falaram do que eles vivem na pele, não podemos cerceá-los!”, considerou Luciana, que se recusou a obedecer à solicitação do tenente.

O caso repercutiu nas redes sociais e na quarta-feira (24/11), o deputado federal bolsonarista Heitor Freire (PSL-CE), do PSL do Ceará, foi até o CED 01, invadiu o local acompanhado de uma assessora, não se apresentaram ao corpo pedagógico da escola, e filmaram a vice-diretora sem autorização dela. O parlamentar também tentou intimidar a professora e fez ameaças do tipo “você vai cair” quando ela lhe informava qual o procedimento formal para registrar reclamações e questionamentos.

Na manhã de quinta-feira (25/11), a comunidade escolar se manifestou num ato em apoio à vice-diretora Luciana Pain, que foi firme na defesa da autonomia didático-pedagógica da escola e do colega responsável pelos trabalhos em questão, bem como na defesa da liberdade de expressão dos estudantes. O ato também denunciou o constrangimento causado pelo parlamentar, que, numa atitude de abuso de autoridade, desrespeitou a professora, seu trabalho e a comunidade escolar do CED 01 como um todo. “Não aceitaremos mordaça”, afirmou Luciana.

O Sinasefe Brasília se solidarizou com os estudantes e educadores atacados no exercício de seu trabalho e estudo. “No caso do IFB, acompanharemos de perto os desdobramentos do processo, cobrando que os responsáveis sejam punidos. Não podemos aceitar a violência, o racismo e a covardia daqueles que se escondem no ambiente virtual para cometer esse tipo de crime” destacou a seção sindical.

Acreditamos em uma sociedade mais justa e igualitária, na qual pessoas criminosas, preconceituosas e covardes não têm espaço para oprimir ainda mais aquelas e aqueles que nunca tiveram voz e vez. Lamentamos profundamente o ocorrido e continuaremos em luta para criar espaços cada vez mais plurais, respeitosos e igualitários” reforça a entidade.

Fonte: Sinasefe Brasília com informações do Sinpro/DF

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