Postagem atualizada em 12/07/2020 às 19h10

“Uma pessoa que ganha R$ 10 mil por mês é uma pessoa rica” – a frase acima poderia ser de um programa humorístico, mas não é. Veio do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), que sugeriu ontem (31/03) cortar parte dos salários dos servidores públicos, isso em meio à pandemia da COVID-19 e à situação de calamidade pública pela qual passa o país.
Famoso pelos memes, fake news e deboches que faz no Movimento Brasil Livre (MBL), Kim fez essa fala em defesa dos cortes salariais no programa UOL Debate, que discutiu a atuação do Congresso Nacional frente ao coronavírus e contou também com as participações do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), da senadora Simone Tebet (MDB-MS) e do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), sob a mediação do jornalista e colunista do UOL Tales Farias.
Kim citou o seu Projeto de Lei (PL) para cortar gastos da União e dos Estados, no qual já havia ameaçado a possibilidade de cortes salariais. “Vai chegar um momento que vamos ter que falar de corte de salários do funcionalismo público. O Estado mais rico da federação está atrasando salários de funcionários”, disse Kim (no vídeo a partir de 22’10”).
“Acho que tem que ser levado para Legislativo, Judiciário e Executivo. Principalmente quem ganha acima do teto do INSS. Essa é uma discussão que os deputados dizem que é demagógica. Vamos ter que falar de corte de cartão corporativo”, acrescentou.
Para o deputado, a medida deve ser debatida “ainda mais em um momento que os bancos estão com aversão ao risco”. “Esses títulos não vão garantir a liquidez necessária”, alegou.
Ainda segundo o militante do MBL, diante dos números da arrecadação e das despesas públicas, o corte será necessário. Frente aos cálculos que ele mesmo fez, Kim chamou de “incoerente” o discurso de Jair Bolsonaro diante das medidas tomadas na área econômica do governo. “Se não é um grande problema, ele não precisava ter pedido o decreto de calamidade pública. Um discurso irresponsável, incentivando as pessoas a irem contra o ministro da saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS). Não dá para ele ter duas linhas”, criticou.
“O presidente precisa liderar e enviar projetos para que os cortes da máquina pública sejam feitos. Precisamos de um colchão de renda mínima”, defendeu, em discurso alinhado ao da oposição neste momento.
A senadora Simone Tebet – que preside a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, local onde está a PEC Emergencial (PEC 186/2019), que prevê o corte salarial de até 25% dos servidores – sinalizou positivamente com a possibilidade, mas pediu para que salários de profissionais de saúde, segurança e educação sejam poupados. E apresentou ponderações.
“Temos que falar de corte de salários dos deputados, tem gente que depende do salário, podemos definir isso. Antes de falar de corte de salário do servidor, temos que falar de corte do fundo eleitoral, temos o PLN 4/2020, o Senado manteve o veto da Presidência da República”, argumentou Tebet (no vídeo a partir de 29’10”).
“Temos uma média de 600 mil servidores, há quem diga que querem cortar 10% de quem ganha R$ 10 mil bruto. Está falando de 600 mil servidores, se metade desses servidores têm uma diarista, ele vai dispensar a diarista. Aí estamos falando de pelo menos mais 300 mil desempregados”, acrescentou a senadora ao polarizar contra o argumento de Kataguiri.
Buscando amenizar os efeitos de sua proposta e torná-la menos impopular, Kim passou a defender que o fundo eleitoral deve reforçar o caixa do combate à pandemia. Mas vê outras necessidades no orçamento contra a COVID-19.
“Eu concordo que temos que mandar o fundo eleitoral para o coronavírus, que é R$ 32,5 bilhões. Eu discordo que o ponto de vista que cortar o salário do servidor seria ruim porque ele vai demitir a empregada – porque não é o servidor que paga o salário da empregada, é a empregada, através dos seus impostos, que pagam o salário do servidor”, rebateu Kim, com esse argumento visivelmente em desequilíbrio com a realidade.
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*Com informações de matéria do UOL