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Mais um pronunciamento fake news

Postagem atualizada em 12/07/2020 às 19h10

Na noite de ontem (08/04) Bolsonaro foi novamente à cadeia nacional de rádio e televisão para um pronunciamento – o quinto desde que a crise do coronavírus teve início no país. E nada de novo foi visto: mais uma vez o Presidente da República fez pouco caso da gravidade da crise, defendeu mais a economia do que as vidas da população e, se valendo de informações falsas e distorcidas, anunciou que o governo usará a hidroxicloroquina em pacientes com a COVID-19, mesmo sem eficácia comprovada do medicamento.

Retorno ao trabalho

Como tem feito desde a chegada do coronavírus ao Brasil, Bolsonaro voltou a defender o retorno imediato das pessoas ao trabalho. O Presidente, conhecido por suas teses negacionistas e fundamentadas exclusivamente em sua própria ignorância, já não se importa mais em contrariar publicamente as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e sugeriu o chamado “isolamento vertical”, no qual apenas quem estiver no grupo de risco (idosos e pessoas com doenças crônicas) deve ficar em casa. Por outro lado, o Ministério da Saúde (ainda) recomenda um isolamento mais abrangente, para evitar uma disseminação mais veloz da doença e uma consequente sobrecarga nos sistemas de saúde público e privado.

“Tenho certeza de que a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar. Esta sempre foi minha orientação a todos os ministros, observadas as normas do Ministério da Saúde”, disse Bolsonaro, que ainda citou governadores e prefeitos como responsáveis por determinar medidas de isolamento em estados e municípios: “respeito a autonomia dos governadores e prefeitos. Muitas medidas de forma restritiva ou não são de responsabilidade exclusiva dos mesmos. O governo federal não foi consultado sobre sua amplitude ou duração”.

Bolsonaro mentiu nessas afirmações, pois é notório que ele não respeita ninguém: nem governadores, nem prefeitos e nem o Ministério da Saúde. Por pressão da cúpula militar de seu governo, ele teve que engolir Luiz Henrique Mandetta como ministro da saúde (o qual ele queria demitir na segunda-feira, colocando Osmar Terra em seu lugar). E o respeito à autonomia de governadores e prefeitos foi imposto à Bolsonaro por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Declaração distorcida

Assim como fez em seu pronunciamento de 31/03, Bolsonaro voltou a tirar do contexto uma declaração do diretor geral da OMS, Tedros Adhanom. “Como afirmou o diretor da OMS, cada país tem suas particularidades. Ou seja, a solução não é a mesma para todos. Os mais humildes não pode deixar de se locomover para buscar o seu pão de cada dia. As consequências do tratamento não podem ser mais danosas do que a própria doença. O desemprego também leva à pobreza, à fome e à miséria. Enfim, à própria morte”, falou.

Na declaração citada por Bolsonaro, Adhanom diz: “sou da África e sei que muita gente precisa trabalhar cada dia para ganhar o seu pão. E os governos devem levar essa população em conta. Se estamos limitando os movimentos, o que vai acontecer com essas pessoas que precisam trabalhar diariamente?”. Esse trecho foi publicado por Bolsonaro, em suas redes sociais, no dia 30/03, como forma de defender a volta das pessoas ao trabalho.

Na publicação, porém, Bolsonaro omitiu o trecho em que Adhanom atribui ao Estado a obrigação de encontrar formas de garantir a sobrevivência das pessoas em tempos de pandemia: “os governos precisam garantir o bem-estar das pessoas que perderam a fonte de renda”, disse o diretor da OMS, que, dias depois, voltou a defender auxílios a quem não pode trabalhar. “Peço aos governos que desenvolvam políticas de proteção econômica para as pessoas que não podem ganhar ou trabalhar em meio à pandemia”.

Pequenas ações do governo

Ao longo do pronunciamento, Bolsonaro citou ações do governo federal para diminuir as perdas econômicas de quem não pode trabalhar durante o período de isolamento. “A partir de amanhã, começaremos a pagar os R$ 600 de auxílio emergencial para apoiar trabalhadores informais, desempregados e microempreendedores durante três meses. Concedemos, também, a isenção do pagamento da conta de energia elétrica aos beneficiários da tarifa social por três meses, atendendo a mais de 9 milhões de famílias que têm suas contas de até R$ 150″, disse – omitindo que o valor do auxílio que ele defendia foi de R$ 200 e que o valor de R$ 600 foi uma derrota dele no Congresso Nacional.

“Disponibilizamos R$ 60 bilhões via Caixa Econômica Federal destinados à micro, pequenas e médias empresas e à construção civil. Os beneficiários do Bolsa Família, que são quase 60 milhões de pessoas, também receberão o abono complementar do auxílio emergencial. Autorizamos, ainda, para junho um saque de até R$ 1045 aos que têm conta vinculada ao FGTS”, completou – omitindo que o saque do FGTS foi condicionado à extinção do fundo PIS/Pasep.

Hidroxicloroquina

Bolsonaro disse que está importando da Índia a matéria-prima necessária para produção em grande quantidade do medicamento hidroxicloroquina, defendendo que o mesmo será utilizado no tratamento da COVID-19 no Brasil.

Não há estudos que comprovem a eficiência da substância no combate ao coronavírus. Por isso, a hidroxicloroquina ainda não é aceita mundialmente como um método de tratar a doença. Mas Bolsonaro, de maneira irresponsável, está vendendo a ideia de que a substância seja a cura da COVID-19.

Para defender sua utilização, Bolsonaro citou o cardiologista Roberto Kalil Filho – conhecido por ser médico de ricos e famosos. Ontem, o médico afirmou ao jornal Folha de S. Paulo (quem diria: Bolsonaro voltou a ler e a dar credibilidade à Folha!) que utilizou a hidroxicloriquina para se tratar e a prescreveu a pacientes com COVID-19.

As declarações do Presidente contrastam com o posicionamento do próprio Ministério da Saúde, uma vez que ainda não há comprovação sobre a eficiência do medicamento no combate ao coronavírus e por conta de possíveis reações colaterais. Mais cedo, ainda na quarta-feira (08/04), o ministro da saúde pregou cautela no uso da hidroxicloroquina.

No pronunciamento, Bolsonaro não mencionou diretamente o nome de Mandetta, de quem discorda sobre as medidas de prevenção ao coronavírus no Brasil. Porém, falou indiretamente sobre as divergências de posicionamento entre integrantes do próprio governo federal, que quase resultaram na demissão do ministro: “Tenho a responsabilidade de decidir sobre as questões do país de forma ampla, usando os ministros que escolhi para conduzir o destino da nação. Todos devem estar sintonizados comigo. Sempre afirmei que tínhamos dois problemas a resolver: o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados simultaneamente.”, disse o presidente, em tom tão autoritário quanto ameaçador.

Bolsonaro e suas declarações estúpidas e mentirosas. Até quando teremos que aguentar isso? Espero que não por muito tempo…

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