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Nota de repúdio do Sinasefe CMRJ: encenação com bandeira e saudação nazista

Postagem atualizada em 07/07/2022 às 0h14

Na última sexta-feira, dia 1º de julho de 2022, fomos surpreendidos com a notícia de que, em evento em homenagem à Força Expedicionária Brasileira (FEB), houve uma encenação com indivíduos trajados com uniformes militares fazendo a saudação nazista diante de uma bandeira com uma suástica hasteada.

Ainda que se trate de uma dramatização, muitos integrantes do corpo docente manifestaram sua perplexidade e indignação em relação à atividade, que foi realizada sem que fossem consultados ou sequer informados previamente de que tal encenação ocorreria. Depararam-se com a cena ao chegarem ao trabalho ou foram informados por alunos, que também se demonstraram surpresos com a apresentação. Se o objetivo era pedagógico, por que professores, entre eles integrantes da equipe de história, não foram consultados ou convidados a participar do planejamento da atividade? Certamente, poderiam ter sugerido estratégias menos controversas e com melhor potencial educativo. Aliás, muitos professores da instituição já fazem um trabalho de conscientização sobre os horrores da Shoah de forma consistente em suas aulas regulares.

Espanta-nos, especialmente, que uma atividade assim tenha acontecido, quando a própria gestão da instituição se opõe ao trabalho de certos temas, já tendo havido, inclusive, vetado avaliações ou atividades que continham textos que versavam sobre igualdade de gênero, cultura e religiosidade africana ou sexualidade, sob a alegação de que se trata de pautas políticas que não devem ser abordadas na escola por destoarem do projeto pedagógico ou dos valores da instituição. No entanto, a própria legislação brasileira defende o direito às liberdades individuais e condena ou criminaliza atos como a homofobia, o racismo, a intolerância religiosa e a misoginia. A divulgação de símbolos nazistas, por sua vez, é considerada crime em nosso país. Como pode a mesma instituição que se mostra tão reticente ao tratar de temas balizados por nossa legislação não demonstrar a mesma preocupação com tema tão sensível como o nazismo e o holocausto?

Ademais, considerando que a confecção e posse desse tipo de material são considerados crime na legislação brasileira, questionamos a necessidade de usar símbolo tão controverso para realizar uma homenagem à FEB, quando haveria formas mais interessantes de prestar tal homenagem evitando a possibilidade de atingir de alguma forma a memória das vítimas de um dos maiores horrores da história da humanidade. Questionamos ainda que esse tipo de representação aconteça justamente em momento festivo realizado em uma escola, sob o risco de passar uma mensagem totalmente equivocada a alunos menores de idade, em processo de formação. O próprio vídeo que circula nas redes sociais é uma demonstração disso, já que é possível ouvir gargalhadas diante da encenação da saudação nazista.

Por fim, cumpre destacar que até mesmo parte de nosso corpo discente tenha compreendido o problema que envolve esse tipo de encenação sem a devida cautela, já que vários alunos procuraram seus professores após o evento com questionamentos sobre o ocorrido. Causa-nos, portanto, maior espanto que gestores da instituição, responsáveis por zelar pelo processo educacional de tais estudantes, não tenham feito o mesmo questionamento e impedido que a atividade acontecesse.

Diante do ocorrido, nós, do Sinasefe CMRJ, repudiamos tal encenação e prestamos a nossa solidariedade às vítimas do holocausto e seus familiares que possam ter se sentido de alguma forma ofendidos ou agredidos com tal cena. Além disso, pedimos respeitosamente, por meio da presente nota, que a instituição reconheça o equívoco da proposta e se retrate não apenas com aqueles que sofreram os horrores do nazismo e seus descendentes, mas também com toda comunidade escolar por ter sido exposta a situação tão controversa. Fazemos esse apelo confiantes de que não houve nenhuma intenção da instituição em provocar tal efeito, mas, uma vez que ele de fato ocorreu e pessoas se sentiram ofendidas, que esta saiba reconhecer o erro e venha a público para se retratar.

Baixe aqui a Nota de Repúdio visível acima (formato PDF).

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