Dia Internacional do Orgulho LGBT: Um dia que nunca será como outro qualquer

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Dia Internacional do Orgulho LGBT: Um dia que nunca será como outro qualquer

Postagem atualizada em 28/06/2014 às 3h31

28 de junho de 1969, Christopher Street, Manhattan, Nova Iorque. Uma noite que poderia ter sido mais uma qualquer: vários gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (LGBT) se reuniam num bar que, clandestinamente, aceitava esse público e funcionava especialmente para ele. Logicamente que não sem receber algo em troca: a bebida adulterada para render mais era vendida a altos preços, afinal os frequentadores não poderiam reclamar. Ou pagavam mais caro por um ambiente onde poderiam ser quem eram, ou corriam o risco de ficar na rua. Num país em que existia uma verdadeira propaganda anti-gay e em que os LGBT sofriam intervenções médicas (como lobotomia, castração, aplicação de hormônios sexuais etc.) para deixarem de ser quem eram, havia poucos os refúgios nos quais essa população podia encontrar lazer.

Como dito, poderia ser mais uma noite qualquer. No Stonewall Inn, o “bar gay” clandestino, mais uma batida policial resultou em violência contra os frequentadores. Sim, o Stonewall Inn era um bar muito procurado por LGBT, mais seguro do que as ruas e com pegação garantida (como qualquer boate ou bar que receba heterossexuais cisgêneros), mas mesmo que pagassem caro por uma falsa liberdade, os frequentadores não estavam livres de violência. Era comum que policiais entrassem no local e, de forma violenta, agredissem LGBT e os colocassem para fora.

No entanto, não foi uma noite como outra qualquer. Quando a polícia chegou ao local, encontrou lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros cansados de sofrer violência. De uma forma surpreendente, eles perceberam que não precisavam sentir vergonha por ser quem eram e, que se havia algo de errado, era a opressão que sofriam. A partir de então, decidiram que não aceitariam mais passivamente a violência policial, as humilhações, a disparidade de direitos em relação aos heterossexuais, a patologização médica e qualquer outra forma de discriminação. Quando a polícia foi posta para correr do bar, não adiantou pedir reforços. O grupo que lutava contra o racismo, As Panteras Negras, juntamente com militantes feministas e militantes de esquerda vieram em apoio dos LGBT. Durante dias, Nova Iorque vibrou ao som dos gritos por respeito, por liberdade, por direitos. Vibrou ao som do Orgulho LGBT, que calava a voz do ódio, que até então os ensinara a terem vergonha de quem eram.

A noite do dia 28 de junho de 1969 deu início a um processo de enfrentamento entre manifestantes e policiais e de manifestações massivas que ficaram conhecidas como a Revolta de Stonewall. No último dia de protestos, ocorreu a primeira Parada do Orgulho LGBT do mundo e, até hoje, LGBT do mundo todo relembram a coragem e a força dos seus companheiros e companheiras nova-iorquinos que participaram da Revolta.

Hoje, nossas Paradas do Orgulho foram dominadas por boates que, numa lógica empresarial, usam esse momento de manifestação política para se autopromoverem. Hoje, nós LGBTs ainda precisamos frequentar “guetos” para poder expressar nossa sexualidade. As boates e bares LGBT são como novos Stonewall Inn, que cobram caro por uma falsa liberdade e, quem não pode pagar, os trabalhadores e trabalhadoras LGBT mais pobres, ficam ainda mais vulneráveis à violência. Hoje, os heterossexuais cisgênero ainda possuem muito mais direitos que os LGBTs. Hoje, o Brasil é o país com maior registro de assassinatos a LGBT causados por homofobia e transfobia em todo mundo, sendo o número de casos proporcional a um a cada 26 horas.

Portanto, hoje ainda é necessário usarmos o dia Internacional do Orgulho LGBT, que se dá no aniversário da Revolta de Stonewall, para lutarmos contra a opressão e afirmarmos nosso Orgulho. Mas é necessário que a classe trabalhadora como um todo, e não só os LGBT, combatam a opressão. Somente com a incorporação do combate à homofobia e transfobia na luta dos trabalhadores é que será possível construirmos uma sociedade de fato igualitária.

Por Luth Laporta, pintosa, socialista, da Anel e integrante do setorial LGBT da CSP-Conlutas.