Postagem atualizada em 17/11/2016 às 11h28
O Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, o Movimento Hip Hop Militante Quilombo Brasil e diversas outras entidades fazem um chamado fraterno às organizações do movimento negro brasileiro e mundial a se incorporem na construção da Marcha da Periferia e do Novembro Negro deste ano.
Confira abaixo o Manifesto “Aquilombar para Reparar” em sua íntegra:
A burguesia cometeu o maior crime da história que foi escravização de mais de 20 milhões de africanos. Mais da metade destes morreu no deslocamento do interior da África até os portos ou navios negreiros que cruzavam o Atlântico com centenas de seres humanos acorrentados e tratados como se fossem animais. Devido ao alto índice de mortalidade em seus porões, esses navios ficaram conhecidos como tumbeiros.
Eles também foram implacáveis com os povos indígenas. Exterminaram mais de 50 milhões em nome do capitalismo e sob a benção da Igreja.
Não bastando, proclamaram a independência do Brasil em 1822 mantendo a escravidão por mais 66 anos e depois aboliram a escravidão em 1888 mantendo o latifúndio e deixando nosso povo sem terra, emprego, educação e respeito humano.
Depois financiaram a imigração européia, ao mesmo tempo em que tentaram eliminar nosso povo sob o pretexto de que o Brasil só se tornaria uma nação desenvolvida se fosse transformado num país de brancos. Esse projeto de embranquecer o país fracassou por vários motivos, dentre os quais a impressionante capacidade de reorganização e luta do nosso povo.
Essa é a história que celebramos em 20 de novembro. É a história de Acotirene, Aqualtune, Zumbi, Dandara e seus quilombolas. Mas também são as histórias de João Cândidos e dos marinheiros que se revoltaram contra a chibata; dos Cabanos, dos Balaios, dos Lanceiros Negros e de todos que mantiveram a chama da rebeldia acessa em nossos corações e mentes. Essa é a história dos que nunca se curvaram à opressão e a exploração.
Chega de crimes e ataques!
Os herdeiros dessa burguesia até reconhecem que praticaram esse holocausto. O Estado que eles controlam reconhece que é criminoso. São réus confessos, porém são assassinos impunes! Até hoje nada fizeram para reparar tais atrocidades.
Pelo contrário, passados quase 130 anos da abolição, os herdeiros da Casa Grande juntamente com seus governos – ontem Dilma, hoje Temer – retomaram o projeto histórico de genocídio do povo negro e indígena.
Só que, agora, as armas são outras, como a Reforma da Previdência, a Reforma do Ensino Médio, o Projeto “Escola Sem Partido”, o congelamento de salários por 20 anos, o aumento da repressão, do encarceramento e do genocídio de jovens negros, o feminicídio de mulheres negras e o descaso criminoso com a LGBTfobia, entre tantos outros ataques em curso. Essa história precisa ser freada.
Para nós que construímos a Marcha Nacional da Periferia é chegada a hora de mudar os rumos dessa história. É hora de intensificar a resistência negra, indígena, juvenil, feminina, LGBT e proletária que cresce por todo o país. É hora de unificar as lutas em torno da construção do Novembro Negro e da Marcha Nacional da Periferia rumo a uma greve geral para derrotar Temer e todos os que vivem encastelados na Casa Grande da burguesia.
Tá na hora de acertarmos as contas!
Se o Estado cometeu um crime histórico, tem que pagar. Não se trata de pagamentos individuais, já que o acerto de contas é coletivo. O Estado tem que reparar os quilombolas e indígenas com a demarcação e titulação de seus e territórios. Tem que reparar nossa juventude negra dissolvendo a PM e instalando os Conselhos Populares de Segurança Pública nos bairros de periferia. Tem que reparar nossas irmãs pretas com mais verbas para da saúde pública, políticas especificas para a população negra e estatização dos hospitais privados, para acabar com a indústria da doença.
Passamos mais de 400 anos sem acesso à educação; então, agora, nós queremos mais verbas para educação pública, ampliação da política de cotas nas universidades (proporcional a quantidade de negros em cada região) e que a nossa permanência nessas instituições sejam de fato garantidas. É preciso estatizar todas as faculdades privadas, rumo ao acesso às universidades para todos, sem necessidades de seleções racistas.
Nenhum direito a menos, que os ricos paguem pela crise! Por um plano de construção de obras públicas para gerar empregos. Imediata suspensão do pagamento da divida pública! Reforma agrária sobre o controle dos quilombolas, camponeses, indígenas e todos os trabalhadores que vivem no campo.
Aquilombar para Reparar!
Por isso, gritamos em alto e bom som: vamos aquilombar o Brasil! Vamos instalar em cada quebrada, fábrica, escola e território, os Conselhos Populares, ou seja, os quilombos modernos onde as decisões sejam tomadas de forma coletiva e democrática.
O exemplo já está aí. Os jovens negros e não-negros, indígenas, quilombolas, mulheres, LGBTs estão mostrando o caminho com as ocupações de escolas, institutos, universidades e territórios (no campo e na cidade). São embriões de aquilombamento. São embriões de Conselhos Populares!
Esse é o caminho que Zumbi e Dandara nos ensinaram a trilhar: o caminho da resistência, da ousadia e das iniciativas revolucionárias, pois a história já nos mostrou que a nossa existência é incompatível com a existência do capitalismo. Então, que viva nossa gente e que morra o capitalismo juntamente com o racismo, o machismo e a LGBTfobia!
O Novembro Negro começou e com ele a instalação dos Comitês de construção das Marchas das Periferias para que os oprimidos e explorados unam forças, aquilombem o país e tomem em suas mãos o seu próprio destino!
Temer está fazendo hora extra no poder. Tem que ser derrubado logo, juntamente com todos os projetos antipopulares. Para isso, precisamos construir uma Greve Geral!
É assim que vamos reparar todos os males que a opressão racial e a exploração capitalista causaram ao nosso povo, quando erguemos um novo Palmares. Quando construirmos uma sociedade com igualdade, justiça e liberdade plenas. Quando acabarmos com o capitalismo que alimenta e se beneficia do racismo. Eis a hora, junte-se a nós!
Procure o Comitê de Construção da Marcha da Periferia mais próximo do seu local de moradia, estudo ou trabalho e aquilombe-se conosco!