Contra militarização: entrevistado comenta experiência em instituições militares de ensino

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Contra militarização: entrevistado comenta experiência em instituições militares de ensino

Postagem atualizada em 02/04/2019 às 15h04

Ao longo da Semana de debates Contra a Militarização da Educação (31/03 a 4/4), o SINASEFE divulgará entrevistas sobre o tema com trabalhadores e militantes que atuam em escolas militarizadas e/ou que estudam a temática. Além disso, serão divulgadas as atividades realizadas nos locais de trabalho para denunciar a problemática da militarização da educação.

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Flávio dos Santos Barbosa tem 52 anos, é técnico-administrativo (Ministério da Defesa) e professor (Estado de Pernambuco), trabalha na 7ª Região Militar, em Recife-PE. Possui Licenciatura Plena em Geografia, Especialização no Ensino da Geografia e Questão Ambiental e Mestrado em Tecnologia Ambiental – Áreas Degradadas. Atualmente integra a Coordenação Geral da Seção Sindical do Sinasefe-CMR/EAMPE; foi diretor da Seção Sindical do Sinasefe-CMR/EAMPE em três gestões; atuou também como diretor da Coordenação de Pessoal Técnico Administrativo do Sinasefe Nacional anos 2014-2015; e também Coordenador de Comunicação do Sinasefe anos 2016-2018.

1) Em ascensão em todo país, a ideologia de militarização da vida e da educação, que se disfarça de neutra, combate a atuação dos educadores. Enquanto trabalhador da educação, atuando em escola militar há anos, como você percebe os efeitos deste processo de militarização no cotidiano dos profissionais da educação?

Percebo como muito negativa, pois tal militarização vem carregada de vícios e posturas advindas da Ditadura Militar instalada no país desde 1964, com muito autoritarismo e desrespeito às ideias de uma educação democrática, igualitária e libertária. Os profissionais de educação não têm liberdade de expor suas ideias e contribuições sem que sejam questionados se estão produzindo e reproduzindo uma ideologia político partidária. O profissional se sente o tempo todo “vigiado” e qualquer assunto ou questão trabalhados com os alunos que saia do “padrão” por eles estipulado (numa educação tradicional e arcaica) é motivo de questionamento e em muitos casos sindicâncias e até mesmo de processos administrativos.

2) Para o trabalhador civil, o cotidiano numa escola militar é tenso, desconfortável e repleto de episódios de assédios e abusos de poder. Esse nível de estresse, certamente, provoca efeitos negativos na atuação profissional e na saúde dos trabalhadores. Na sua percepção, o adoecimento de professores e técnicos, já tão comum em toda Rede Federal, pode se acentuar num cenário de militarização das escolas federais? É possível comentar sua experiência nestes ambientes?

Com certeza, esse clima de “vigilância” e ameaça constante de processos administrativos a que estão submetidos os profissionais de educação nas escolas vinculadas ao Ministério da Defesa faz com que esses profissionais trabalhem sob constante estresse, somatizando o processo de adoecimento no trabalho. Temos experiências muito recentes de profissionais que estão sob medicação controlada para poder exercer sua profissão, recentemente no Colégio Militar do Recife, temos uma técnica administrativa que está sendo assediada diariamente pela sua chefia, por ter denunciado um assédio moral cometido por um oficial. Professores que são questionados constantemente sobre sua didática em sala de aula com a acusação de estar praticando ideologias políticas ou de gênero. A escola, com essa postura, faz uma alusão clara à defesa do Projeto Escola Sem Partido. Profissionais da educação sendo questionados por estarem usando camisas do sindicato. Eu por exemplo fui removido do Colégio Militar do Recife para 7ª Região Militar num processo arbitrário e de perseguição política por ser Coordenador Geral da seção sindical, tal fato foi tão arbitrário que houve uma permuta de servidores dos dois órgãos sem a minha permissão, a remoção (que se caracteriza numa permuta) se deu “por cima” pela Diretoria de Civis, Inativos, Pensionistas e Assistência Social-DCIPAS, sem nenhum indicativo de quem fez o pedido. A “permuta” foi tão arbitrária que o profissional que foi para o CMR era um auxiliar de atividades agropecuária (nível auxiliar) e desviado de função para exercer a função de psicopedagogo. Vale salientar que apesar de ser concursado como nível médio, tenho mestrado e especialização em Geografia e nunca fui aproveitado no CMR para dar aula, sempre na alegação de que seria desvio de função. Há caso de professores do Colégio Militar de Campo Grande que foram obrigados a desfilar em 7 de setembro com ameaça de sofrerem processo administrativo, fato esse que levou a DN do SINASEFE a uma reunião com o Ministério da Defesa para denunciar o ocorrido.

Portanto, analiso que o processo de militarização das escolas públicas trará um prejuízo enorme para educação que nos seus fundamentos e princípios deva cumprir um papel social de democracia, igualdade e liberdade.

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