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Escola de Cinema Darcy Ribeiro enfrenta ameaça de despejo

Postagem atualizada em 26/08/2020 às 17h23

O governo e a justiça federal determinaram que a Escola de Cinema Darcy Ribeiro deixe o prédio onde está instalada há 20 anos. A desocupação da Escola de Cinema faz parte do projeto de privatização da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, dona do prédio. O governo federal quer transformar o edifício onde a escola fica, no centro do Rio, em sede estadual dos Correios. Em dezembro de 2018, a escola de Cinema Darcy Ribeiro foi declarada Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial do estado do Rio de Janeiro.

Ao longo de duas décadas de atividades, a escola recebeu e capacitou mais de 20 mil alunos oriundos de todas as regiões do Brasil e de diferentes países do mundo, primando pela diversidade, pluralidade e pela interação colaborativa de alunos de diferentes origens e classes sociais – tendo como princípio a democratização ao acesso à formação audiovisual, oferecendo cursos gratuitos com reserva de vagas para alunos de ONGs, bem como estudantes que pagam um valor através de matrícula subsidiada .

A diretora e fundadora da escola de cinema, Irene Ferraz, lembra que ainda há um decreto de calamidade pública em vigor por causa da pandemia de COVID-19 e pede que a escola tenha prazo maior para conseguir a destinação de seu acervo. A escola guarda coleções pessoais de cineastas e cinéfilos como Daniel Filho, José Wilker e Moniz Viana, além de roteiros originais do cinema nacional, equipamentos para a produção audiovisual dos alunos e filmes produzidos por eles.

“Estamos tentando mitigar os prejuízos da escola, para que se possa fazer uma saída com calma e organizar um lugar. A escola tem grande acervo do cinema brasileiro”, pondera. “É um acervo de tanta importância que caberia em uma instituição que cuida de acervos”. 

Em despacho publicado dia 13/08, a juíza federal Geraldine Vital registrou que a decisão de reintegração de posse está vigente e pendente de cumprimento. A juíza pediu que a escola fosse intimada a informar nos autos a destinação dos bens que se encontram no imóvel. 

Irene Ferraz destaca que a instituição foi responsável pela reforma do prédio, que tem nove salas de aula, duas ilhas de edição, uma sala de exibição com 100 lugares, biblioteca e salas de equipamentos. “Esse prédio estava totalmente em ruínas. Se não tivesse existido a escola, talvez esse prédio não existisse mais”, afirma. “A escola salvou esse patrimônio. Fizemos a manutenção dele por 20 anos”. 

A diretora lembra que mais de 20 mil alunos já passaram pela instituição e afirma que a escola faz um trabalho social importante com a concessão de bolsas gratuitas, sendo uma referência internacional no ensino do audiovisual. “A escola é um patrimônio, atende a alunos do Brasil e do mundo. Temos alunos de outros países aqui”.

Diante do prolongamento da pandemia de COVID-19, a escola vai retomar de forma online seus cursos regulares de direção, roteiro e montagem a partir de 24 de agosto. A direção também tem buscado parcerias com produtoras para realizar aulas práticas e só deve retomar aulas teóricas presenciais no ano que vem.

Irene Ferraz destaca que o isolamento social evidenciou a importância do setor audiovisual para a economia e para o dia a dia da população.

“Graças ao audiovisual, as pessoas puderam atravessar melhor tudo isso”, afirma ela, que vê o setor como atividade promissora no mundo pós-pandemia. “Há uma geração que está produzindo conteúdo e que se formou na escola. E a gente precisa continuar formando para que continuem trabalhando. É uma questão também de empregabilidade”.

*Com informações do Brasil de Fato, Agência Brasil, Diário do Rio, e Voz das Comunidades.