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Shilton Roque comenta atropelamento, violência policial e intervenção no IFRN

Postagem atualizada em 17/08/2020 às 13h40

Na terça-feira (11/08), estudantes e trabalhadores do IFRN enfrentaram o ataque truculento e absurdo da equipe interventora e da PM do Rio Grande do Norte. Para divulgar os detalhes do triste episódio, o SINASEFE conversou com Shilton Roque, um dos lutadores agredido na ocasião.

Shilton Roque tem 31 anos, é trabalhador (assistente em administração) do IFRN desde 2010, além de ser aluno da mesma instituição (doutorando em Educação Profissional). Ele atuou na Direção Nacional do SINASEFE entre 2014 e 2016.

O contexto do IFRN em 2020 é delicado, já que a comunidade escolar foi completamente desrespeitada pelo MEC e governo Bolsonaro. Como você resumiria este contexto?
Enfrentamos uma intervenção de desde abril, quando o ex-ministro foragido Weintraub nomeou um interventor do PSL para o IFRN e não nomeou o professor José Arnóbio, eleito pela comunidade.

Qual é a realidade enfrentada pelos estudantes e trabalhadores neste período de intervenção?
Tem sido um caos, instituição não anda, não funciona, há muita luta e mobilização contra tudo isso, mas a equipe interventora segue suspendendo reuniões dos Conselhos com as piores manobras burocráticas. Seguem desrepeitando a comunidade escolar com uma atuação autoritária nesses espaços, para além de imoralidades como o processo, recentemente denunciado, de aquisição de computadores de cifras altíssimas para a equipe gestora.

Os estudantes receberam como “presente” a truculência e a violência policial no dia em que deveriam ser homenageados. Pode comentar os acontecimentos deste dia lamentável?
Pela manhã os estudantes estavam nesse espaço que é deles, que é a reitoria, faziam uma manifestação pacífica, colocando palavras de ordem e fazendo exigências, quando esse interventor chamou a polícia militar para dentro a instituição. E os estudantes foram tratados com a truculência que lhe é característica: foram apreendidos, de forma ilegal, celulares dos estudantes, um estudante menor de idade foi agredido fisicamente, foi impedido acesso à instituição por parte do interventor e da polícia. Quando soubemos que a polícia estava na instituição, nós servidores fomos lá para evitar justamente esses abusos, para evitar que esse tipo de coisa acontecesse e para fazer parte da mobilização em conjunto.

 

Fotos de Gabriela Leopoldo

Qual o cenário que vocês encontraram ao chegar na instituição?
Chegando lá a gente foi recebido com grosserias pela polícia, que nos chamou de palavrão, nos tratou com truculência, da pior maneira possível, jogando gás de pimenta na nossa cara de forma gratuita, gratuita mesmo. Eles despejaram gás de pimenta sem estar ocorrendo nada, não como forma de dispersar nada do que estava acontecendo ali, foi de forma totalmente irresponsável e maldosa.

Logo após a chegada à reitoria você foi atropelado, à pé, no portão da instituição onde  trabalha e estuda, pode contar os detalhes?
Alguns pró-reitores desse grupo da gestão do interventor estavam saindo do prédio com manobras rápidas e cantando pneu. Um deles avançou sobre nós servidores que estávamos ali na entrada, sem possibilidade de entrar na instituição. Ele me atropelou com a lateral do carro. Felizmente estávamos nos afastando do portão, porque ele avançou, ele ameaçou passar por cima de todos que ali estavam. O golpe do carro não me jogou ao chão tanta força, pois o corpo girou antes de eu cair, então não tive escoriações graves. É absurdo constatar que pedalo há dez anos numa cidade sem ciclovias e fui ser atropelado à pé, por um pró-reitor.

Além desta violência que você sofreu, os policiais agrediram estudantes menores de idade?
Sim, numa destas saídas abruptas de veículos, um policial tentou expulsar um estudante adolescente e o camarada resistiu, disse: “Eu estou aqui, não posso sair daqui, por que você está me retirando daqui?” Ele teve os óculos e relógio quebrados, além de escoriações nos braços.

Como você classifica a atitude da equipe interventora do IFRN?
Foi assim – com violência, truculência e desrespeito – que o interventor quis comemorar o Dia do Estudante na nossa instituição. Isso também revela a necessidade de levarmos até as últimas instâncias a nossa luta e nossa mobilização. Isso revela quem são as pessoas que são nomeadas pelo governo, de forma ilegal, de forma ilegítima, para intervir não digo nem administrar, nas nossas instituições. Instituições que temos construído com afinco, e que são reconhecidas no país. Trata-se de um projeto de desmonte e de destruição da educação dos trabalhadores dos estudantes bons lutadores.

Qual mensagem você envia para a categoria que o SINASFE organiza?
Sabemos que sua luta só a luta muda a vida. Reitero que estamos bem, estamos com a nossa integridade física mantida. A gente seguirá na luta, ainda muito maior, não vamos deixar isso barato. Vamos reagir, não vamos deixar que tomem, destruam a Rede Federal, e que nos tratem dessa maneira. É necessário, para além da reação, que partamos para uma ofensiva, não podemos simplesmente ficar correndo atrás dos desmandos dessa escalada autoritária, anulando e denunciando suas ações, precisamos estar à frente deles, paralisá-los materialmente. Um forte abraço, saúde à todos, agradeço a solidariedade, força na luta pra nós.

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