Postagem atualizada em 09/04/2021 às 12h33
Nesta quarta-feira (07/04), a mando do governador Ibaneis Rocha (PMDB), a Polícia Militar do Distrito Federal invadiu a Ocupação CCBB desabrigando mais de 30 famílias no momento em que os números da pandemia batem recordes de mortalidade diariamente.
A ação da PMDF, além de ser truculenta e autoritária, aconteceu de surpresa, pois o presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab-DF) afirmou às lideranças da ocupação que não haveriam ações de despejo até sexta-feira (09/04). Além de agredir os moradores e destruir a Escolinha do Cerrado, que atendia cerca de 20 crianças da ocupação, a Polícia ainda prendeu quatro ativistas que estavam no local prestando apoio àquela comunidade.
Um dos militantes presos na ocupação, Caio Sad Barbosa, é estudante do IFB e coordenador da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet). Após participar de um ato em defesa da vacina para todos que aconteceu na manhã de quarta-feira, Caio voltou para o assentamento e deparou-se com um grande contingente de policiais cercando o local.
“A gente queria proteger a escolinha, a polícia começou a puxar a gente, minha perna está toda queimada de spray de pimenta”, declarou Cássia, uma das moradoras do local.
Fotos: Scarlett Rocha
“Bateram em mulher, jogaram spray de pimenta nas crianças, estamos sofrendo nesse lugar, sabendo que temos direito de receber moradia, não recebemos ainda porque a Codhab não deu resposta pra gente. Não somos invasores, somos ocupantes, temos direito a nossa moradia, o que estão fazendo com a gente é desumano, queremos moradia digna como qualquer ser humano, estamos aqui porque não temos opção”, completou.
Crime ambiental
Os presos políticos foram formalmente acusados de crime ambiental e tiveram que pagar fiança para serem liberados. “O que está acontecendo é uma ditadura, pois prendem primeiro e depois decidem qual acusação irão alegar”, observa a coordenadora do Sinasefe Brasília, Camila Tenório Cunha.
Para a sindicalista, a ação criminosa parte do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, porque o mesmo, além de não prover moradia digna para a população sem teto, age com violência contra aqueles que lutam por direitos básicos.
“Não é crime morar, não é crime ser catador e ajudar o meio ambiente, não é crime fazer uma escolinha e defender essa escolinha, não é crime defender essas famílias. Crime, governador, é destruir essa escola que estava educando as crianças que o senhor deveria estar preocupado em educar e proteger. Mais crime ainda é desabrigar essas famílias em plena pandemia, quando estão morrendo mais de 4 mil pessoas por dia. Ao invés de estar preocupado com isso, o senhor está preocupado em lamber bota de capitão”, afirmou a sindicalista.
Assim como o coordenador da Seção Brasília, Lucas Barbosa, Camila esteve presente na vigília pela libertação dos presos, que começou ainda na tarde de quarta-feira (07/04) e só se dispersou quando os quatro manifestantes foram soltos.
O pagamento da fiança foi rateado de forma solidária por meio de uma campanha rápida e eficaz nas redes sociais.
Fotos: Lucas Barbosa e Caio Sad
Caio Sad, ao ser liberado, afirmou que sai dessa situação de cabeça erguida e quem deveria ter vergonha é o governador do GDF e o presidente Bolsonaro, ao qual Ibaneis declarou, ainda essa semana, seu total apoio. “Saímos com mais força, com mais vontade de lutar, vamos seguir organizando a luta pelo direito à moradia e pelo direito à educação”, afirmou o estudante, que também é membro do Conselho Superior do IFB.
A ocupação
Quando retornaram para o local onde haviam construído o acampamento, as famílias da Ocupação CCBB se depararam com um cenário de total destruição. Os barracos e a escolinha foram desmontados pela Polícia e na madrugada de quarta para quinta, contaram com a solidariedade de pessoas que doaram barracas para conseguir se abrigar. Mesmo assim, a capital passou por uma noite chuvosa, impedindo que a fogueira improvisada feita pelos moradores da ocupação fosse suficiente para aquecê-los.
“Estamos todos desabrigados aqui, o único barraco que não foi derrubado foi o meu, mas mesmo assim eu me sinto triste porque os companheiros todos estão sem ter onde dormir, se vão dormir hoje por causa da solidariedade das pessoas que doaram algumas barracas, a situação é essa, todo mundo ao relento, na beira do fogo, a gente nem tomou banho hoje pela situação que passou. Tô sentindo falta de ar, mas acho que foi efeito do gás e do spray de pimenta”, afirmou Vânia, uma das lideranças do assentamento.
Criminalização sistemática
A prisão de ativistas não é um caso isolado nos dias atuais. Rodrigo Pilha, detido em 18 de março após exibir uma faixa com os dizeres “Bolsonaro Genocida”, teve prisão domiciliar negada nessa terça-feira (06). O militante, que foi preso pela primeira vez em 2014 defendendo a ex-presidenta Dilma, continua detido sob o pretexto de que, por ter mudado de residência deveria ter comunicado a nova moradia pelo andamento do processo anterior.
“O que está acontecendo é que eles ficam procurando uma forma de manter a pessoa presa. Pilha tinha o direito de se expressar, Bolsonaro é um genocida mesmo por não promover nenhuma ação que reduza o impacto dessa pandemia. Tivemos 4,2 mil mortos por Covid em 24 horas, nenhum país no mundo alcançou esse número”, explica Camila Tenório Cunha.
Sobre a prisão de Rodrigo Pilha, está circulando um abaixo assinado pela sua liberação, que pode ser assinado aqui.
*Matéria elaborada e divulgada pelo Sinasefe Brasília-DF