Notícias

Integrante do Conselho de Ética agradece eleição no 34º CONSINASEFE: veja nota da professora Maria Oseia

Postagem atualizada em 01/06/2022 às 12h42

A professora Maria Oseia Bier, eleita para o Conselho de Ética do SINASEFE durante o 34º CONSINASEFE, agradece publicamente a votação e o apoio. Oseia enfrenta um processo de perseguição em seu local de trabalho (IFMT), após ter sua fala interrompida numa reunião de trabalho. Confira a nota completa de agradecimento:

Nota de agradecimento

Movida pelo sentimento de gratidão – palavra que não encontra sinônimo adequado – e ciente da responsabilidade à qual fui investida com os 144 votos dos representantes das mais diversas seções sindicais do país – expressivo número em um universo de 459 delegados -, o que me coloca como titular do Conselho de Ética.

Gratidão e responsabilidade não são meras palavras; trata-se de compromissos que exigem esforço constante e aprendizado incessante para que minha participação não seja mera figuração; a luta deve ser efetiva, apresentar soluções e mobilizar ações que estejam de acordo com o esperado de um Conselho de Ética Nacional do Sindicato.

A candidatura individual e não programática agregou, em torno dela, coletivos classistas que saíram separados na eleição do SINASEFE: MEP – Movimento por uma Escola Popular, Firmes na Luta, integrantes do 1º de Maio e do MEI, representantes independentes, a companheirada da Seção Sindical de Cáceres à qual estamos ligados nas lutas constantes e a quem muito agradecemos e muito respeitamos; também as companheiras e os companheiros da Seção Mato Grosso que, ao longo da nossa gestão, estiveram cotidianamente presentes fazendo a autêntica luta sindical em defesa da classe trabalhadora.

A unidade entre o campo crítico e combativo alegra e anima. O momento histórico que se desenrola exige a superação das diferenças para pelejarmos juntos na greve e nas lutas da nossa classe.

Os debates no CONSINASEFE apresentaram a realidade dura a qual devemos encarar corajosa e coletivamente. Se alguns veem o Congresso Eleitoral como ocasião para manterem posições no cenário nacional, muitos são os que têm inequívoca consciência da necessidade da nossa luta diária desde os nossos locais de trabalho, construindo autonomia, independência e coragem para os enfrentamentos que inevitavelmente virão e, assim, concebem a Direção Nacional como importante instrumento das trabalhadoras e trabalhadores.

As pautas da categoria, a delicada questão dos TAEs, a precarização do trabalho, a ameaça de privatização ou militarização das nossas escolas e, junto com isso, a luta pela manutenção dos direitos sociais, saúde, educação e segurança pública, é dever de casa a ser executado diariamente.

Não desconhecemos a importância da eleição de outubro, mas não podemos paralisar a luta em função de uma promessa messiânica de mudança. É a classe organizada que muda a realidade. Que o pleito eleitoral também seja expressão dessa organização, mas que, em razão dele, não devemos recuar como se a greve fosse um empecilho à mudança de governo.

Coerente com o papel constitucional da educação pública, entendo e atuo com o nítido propósito de formar para o pensamento crítico, para a autonomia e a emancipação. Estaria em contradição com a minha formação – graduação em história e filosofia – e, mais especialmente, com minha pesquisa de mestrado que resultou na dissertação, cujo tema aborda a adesão à lógica autoritária, o fim da individualidade e a relação com a “banalidade do mal”.

Nunca foi meu interesse pessoal a direção do SINASEFE ou o cargo por hora eleito. Entretanto, assumo a tarefa em virtude das pautas que defendemos coletivamente e que fazem parte da agenda de lutas da nossa classe nos últimos anos e que se farão nos próximos.

Entendo que o Conselho de Ética deve se pautar não só do entendimento e julgamento das questões internas mas, sobretudo, para atuar efetivamente na construção de uma sociedade sem racismo, machismo, homofobia, capacitismo e todas as formas de preconceitos, intolerâncias e discriminações. Que enquanto membra do Conselho de Ética, eu contribua para que este assuma uma postura pedagógica, eliminando o punitivismo, geralmente acompanhado das perseguições políticas que, infelizmente, ocorrem também no meio sindical.

Não pode fugir às nossas ações o sentido da palavra Ética, tantas vezes esvaziada de seu conteúdo. Mesmo sabendo seus limites, entendemos que a ética se insere dentro de um domínio maior do que o da moral burguesa. Trata-se da nossa ética sindical e mais, a ética que tem por fundamento, na atualidade – com todas as críticas que se possa fazer – os Direitos Humanos e, mais particularmente, os direitos sociais conquistados pelas lutas dos trabalhadores.

Que desenvolvamos nossa capacidade de nos vermos como iguais respeitando as diferenças; que sejamos capazes de reinventar os termos autonomia e solidariedade de classe; que sejamos honestamente aptos a compreender que estabelecer acordos para garantir o mal menor contrariam os interesses da nossa classe. Façamos constante combate a todas as tentativas de fazer acordos que nos obriguem a abrir mão de direitos sofridamente conquistados para receber migalhas dos “patrões”.

No momento em que o terror do partido único ronda escolas e universidades, em que o negacionismo e a lógica anticientífica sai do senso comum da rua e tenta ocupar espaços onde os conhecimentos filosófico, artístico e científico são fundamentais, fortalecer tais espaços de pluralidade de ideias e de defesa da educação pública é imprescindível, se ainda pretendemos falar em civilização.

Com isso em mente, não poderia deixar de estender meu agradecimento aos que participam firmemente da luta, fazendo a crítica do autoritarismo e das arbitrariedades, onde quer que apareçam.

Nesse sentido, com profunda gratidão, declaro que nunca imaginei ter uma nota das professoras e professores de Filosofia da UFMT, da Anpof – Associação Nacional de Pesquisa em Pósgraduação em Filosofia em solidariedade à minha atuação docente em defesa da educação pública e do Estado Democrático de Direito.

Em hipótese alguma poderia mostrar menor apreço ao Andes – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, cujos militantes, sempre coerentes com sua histórica atuação em defesa da autonomia e da liberdade de pensamento, estão entre os que primeiramente manifestaram sua solidariedade.

À UEE – União Estadual dos Estudantes, que também manifestou seu apoio em sua página do Instagram.

Ainda mais inesperado foi ver a luta política se concretizar, em minha defesa, no ato de ocupação da Reitoria no dia 8 de março de 2022, data que dispensa apresentação; movimentos sociais, o Coletivo das Mulheres do Campo e Urbanas, o MST e tantas outras e outros militantes que, junto à Seção Sindical Mato Grosso, se solidarizam e denunciam a perseguição política que venho sofrendo desde 2016.

Por fim, reconhecidos os inúmeros apoios e a solidariedade manifesta de tantas maneiras, afirmo meu comprometimento incondicional com as nossas lutas, a defesa da greve como recurso necessário, a rigorosa cobrança dos direitos e a resoluta obediência aos acordos coletivamente estabelecidos.

Coragem, firmeza e solidariedade sempre!

Oseia Bier

Baixe aqui o documento acima (formato PDF, 4 páginas)

Conteúdo relacionado