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Não Somos Invisíveis: Manifesto pela criação do GT LGBTIA+

Postagem atualizada em 28/08/2023 às 17h28

No próximo mês de novembro, o SINASEFE realizará seu Congresso Estatuinte, o 35º CONSINASEFE, momento em que se revê o Estatuto que rege nossa entidade sindical.

Na 181ª Plenária Nacional, realizada no último mês de junho, conseguimos garantir um espaço na programação do Congresso para discutir a questão LGBTIA+ e o Movimento Sindical, uma oportunidade para colocarmos na pauta a criação da pasta LGBTIA+ no âmbito do SINASEFE e dizermos de uma vez que “não somos invisíveis”.

A homofobia muitas vezes se manifesta em piadinhas que ficam ainda piores diante do cenário atual em que vivemos, cada vez mais violento e LGBTIA+fóbico.

O número de mortes de pessoas LGBTIA+ no Brasil é um dos maiores do mundo. E, em se tratando da população T (composta por travestis, transexuais e transgêneros), os números são ainda mais alarmantes.

De acordo com o Dossiê de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil em 2022, da ONG Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil, registraram-se no ano passado 273 mortes violentas de pessoas em dissidência sexual ou de gênero no país, sendo 228 assassinatos cuja causa principal foi o ódio a sujeitos nesta condição[1].

Termos como “viado”, “bicha”, “maricona”, “traveca”, “sapatão”, “mulher-macho”, “machuda”; expressões como “que desperdício”, “é uma pena”, “essa nunca teve um homem de verdade”; perguntas em entrevistas de trabalho como “você é casado?” “tem filhos?”; são exemplos de comentários e questionamentos que fazem parte do cotidiano de milhares de trabalhadoras, trabalhadores e estudantes LGBTIA+ e de outras identidades de gênero em nossas Instituições Federais de Ensino (IFEs).

O agravante é que este perverso e desumano cenário social também está enraizado em espaços que nasceram para promover a igualdade, o respeito e a defesa dos direitos humanos e trabalhistas, como o Movimento Sindical. Nesse processo de tensões, conflitos e contradições, impõe-se a nós, profissionais da Educação, a tarefa de trabalhar a convergência desses dois movimentos: o LGBTIA+ e o Sindical.

Com essa compreensão, um grupo de pessoas LGBTIA+ que são membras de seções sindicais do SINASEFE garantiu o espaço de uma Mesa Temática dentro da programação do 35º CONSINASEFE, com o objetivo de garantir o debate de assuntos ligados ao tema dentro do Movimento Sindical e, para tanto, pontuar a importância da ampla participação de companheiras(os) que se identificam como LGBTIA+ na base do SINASEFE e, juntas(os), defendermos no evento a Tese da criação da coordenação específica LGBTIA+ no âmbito do sindicato.

Tal Tese parte do princípio de que a inclusão de pastas específicas sobre o tema deve ser considerada um avanço para nosso sindicato, visto que essa inserção vem sendo um processo lento e que ainda está em construção. Do ponto de vista sindical, as reflexões sobre gênero e diversidades sexuais ainda são recentes e não abarcam de maneira uniforme as diferentes organizações. Tem-se apontado em todas as nossas Plenárias que hoje se discutem as questões do machismo, do racismo e do fascismo em nosso sindicato, e faz-se necessário aprofundar essa discussão, mas as questões da homofobia continuam sendo invisibilizadas, como que varridas para debaixo do tapete.

A LGBTIA+fobia se evidencia absurdamente no Brasil, e o avanço de pautas da extrema-direita, conservadora e preconceituosa, é facilmente perceptível. Os discursos de ódio, o cerceamento e desvios de recursos para políticas específicas e outras formas de manifestações realizadas no obscuro e funesto governo Bolsonaro, em muito fortaleceu aquelas e aqueles que até então não tinham a coragem de se apresentar abertamente como nossos inimigos.

Neste cenário, parlamentares em todas as esferas exasperam o erário na criação e aprovação de ideias como datas comemorativas de um suposto “orgulho hétero” e/ou de apologia a valores conservadores. Tempo e dinheiro são gastos em projetos que só contribuem para o aumento da violência e do preconceito contra a comunidade LGBTIA+ no país.

Se hoje conseguimos nos levantar contra o preconceito e a discriminação, é necessário termos a clareza que ainda persiste o desrespeito à diversidade, e esse desrespeito às vezes transforma-se em violência verbal, física e/ou simbólica, podendo se reverter em empecilho até para a ascensão profissional. Não podemos mais dar espaço, nessa quadra da história, para que a LGBTIA+fobia seja naturalizada nos nossos espaços de trabalho e de militância sindical. A população LGBTIA+ já demonstra fartamente competência para ocupar espaços de disputa do movimento sindical.

Por essas razões – e tantas outras que não cabem no curto espaço desse texto – vimos manifestar nossa posição a favor da oficialização do Grupo de Trabalho LGBTIA+ no âmbito do SINASEFE, e que este GT trabalhe na apresentação de uma Tese a ser levada ao Congresso Estatuinte para criação de uma coordenação LGBTIA+.

SINASEFE

Baixe aqui o Manifesto “Não Somos Invisíveis” visível logo acima (formato PDF).


[1] Cf. https://observatoriomorteseviolenciaslgbtibrasil.org/dossie/mortes-lgbt-2022.

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