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Nota de repúdio ao assassinato de Paulo Paulino Guajajara, da TI Araribóia (MA)

Postagem atualizada em 11/07/2020 às 12h16

O indígena Paulo Paulino Guajajara, conhecido como o “Lobo mau”, foi morto em uma emboscada feita por cinco madeireiros, na última sexta-feira (1). O assassinato ocorreu no interior da Terra Indígena Araribóia, região de Bom Jesus das Selvas (MA), entre as aldeias Lagoa Comprida e Jenipapo.

A emboscada ocorreu quando o grupo de agentes florestais indígenas “Guardiões da Floresta” faziam vigília em suas terras. Na ação, Guajajara foi assassinado com um tiro no rosto e o líder guardião Laércio Guajajara também ficou ferido. Há informação de que um madeireiro também morreu na troca de tiros, o que não foi confirmado.

Sobrevivente da emboscada, Laércio cedeu entrevista ao portal A Pública e relatou que a luta vai continuar, “enquanto tiver guerreiros a luta vai continuar”. O indígena vai integrar o programa de proteção do governo do Maranhão.

Nas primeiras 24 horas após o assassinato, a Polícia Federal relutou em abrir um inquérito policial para investigação do crime, apesar de ser sua função, dado que o crime foi cometido em terra federal.

Embora a proteção dessas terras indígenas seja de responsabilidade federal, o governador do Maranhão, Flávio Dino, se comprometeu, nesta segunda-feira (4), em editar um decreto criando uma força-tarefa de proteção da vida indígena.

Entre as funções da Força-Tarefa da Vida Indígena estará também agir emergencialmente se o estado for solicitado pela Funai, pelo Sistema Nacional de Meio Ambiente e pelo Ministério Público Federal.

Mortes recorrentes

De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a região da aldeia Lagoa Comprida tem um vasto histórico de invasão por madeireiros. De acordo com a entidade, em 2007, o indígena Tomé Guajajara foi assassinado no local. Em 2008, os madeireiros invadiram a aldeia Cabeceira, atirando contra os indígenas. Em 2015, um agente do Ibama foi atacado a tiros e escapou por pouco.

Solidariedade

A Terra Indígena Araribóia foi homologada e registrada em 1990 com 413 mil hectares. Nela vivem cerca de 6 mil indígenas Guajajara, ou Tenetehar, e Awá-Guajá livres, ou seja, em situação de isolamento voluntário.

O grupo “Guardiões da Floresta” foi criado pelos guajajara e vem monitorando o desmatamento e as invasões nas terras indígenas do Maranhão.  Essa comissão atua também nas terras Caru, Awá Guajá, Alto Turiaçu.

Morador do Maranhão, Saulo Arcangeli, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, afirma que no estado se ampliam os conflitos com indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. “Isso ocorre devido ao avanço do agronegócio (conhecido como Matopiba) e de outros grandes projetos que buscam expulsar e assassinar os povos dos territórios. Responsabilizamos o governo Flávio Dino (PCdoB) que avaliza estes empreendimentos e que tem conhecimento do clima de tensão e terror em vários municípios”, salientou.

O dirigente ressalta que a morte de Paulino  é mais um exemplo dessa situação vivida no Maranhão. “Mas é claro, sabemos que o discurso de ódio do governo Bolsonaro contra os indígenas e quilombolas incentiva ações como a que ocorreu dia 1º de novembro na aldeia”, repudia.

“Exigimos a responsabilização dos culpados pelo assassinato do Paulino Guajajara”, disse Saulo.

A CSP-Conlutas repudia a morte Paulo Paulino Guajajara, o “lobo mau”, e exige apuração e prisão dos responsáveis por seu assassinato.A Central solidariza-se com os povos indígenas e com o povo Guajajara diante dessa emboscada e exige justiça. É necessário fortalecer a luta pela demarcação das terras indígenas.

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*Matéria publicada pela CSP-Conlutas, veja no site da Central.