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Manifesto da Plenária Nacional em Defesa da Educação Pública

Postagem atualizada em 18/12/2020 às 17h19

O ano de 2020 foi extremamente desafiador para a Educação Pública e para o conjunto da classe trabalhadora em nosso país diante da pandemia da COVID-19, que escancarou ainda mais as contradições do projeto societário no qual os lucros se impuseram sobre o direito prioritário da vida. Iniciamos 2020 com a perspectiva de importantes lutas a serem travadas, em especial contra as retiradas de direitos e o avanço da extrema direita no país, considerando que, ainda em março, na semana que antecedeu o fechamento das Instituições Federais de Ensino (IFEs), SINASEFE, Andes-SN e Fasubra Sindical lançaram o Comando Nacional Unificado de Mobilização e Greve, na expectativa de entrarmos em um necessário e desafiador crescente das lutas. Na semana seguinte, fomos tomados por uma nova realidade, absolutamente excepcional, imposta pelo isolamento social por conta da pandemia da COVID-19, que, pelos números oficiais, já matou mais de 184 mil pessoas em todo o Brasil, sem contar as subnotificações.

Mas nem por isso nos calamos e, mesmo nos últimos dias deste ano, reafirmamos nosso compromisso de luta em defesa da Educação Pública. Por isso, na noite de 16 de dezembro de 2020, SINASEFE, Andes-SN, ANPG, Fasubra, Fenet, Ubes e da Une organizaram a Plenária Nacional em Defesa da Educação Pública para debatermos as consequências dos cortes orçamentários propostos pelo atual governo para o ano de 2021, os ataques à autonomia e à democracia das Universidades, Institutos Federais e Cefets que não tiveram suas consultas respeitadas e, ainda, a necessidade de nos mobilizarmos para que o retorno das aulas presenciais aconteça somente após a vacinação para todos em nosso país.

Lutamos para recompor o orçamento das IFEs e pela revogação da EC 95/2016

A vigência da Emenda Constitucional nº 95 de 2016 continua provocando queda sucessiva nos investimentos e no custeio das políticas sociais, o que com a Educação não é diferente. O orçamento previsto para 2021 é maior que o de 2020, mas representa cerca de 85% da dotação de 2015 em termos reais (valores corrigidos pela inflação). É cerca de R$ 11 bilhões a menos que o valor real de 2012. Além da queda, que afeta diretamente os investimentos e o custeio, parte significativa do recurso previsto dependerá de aprovação de crédito suplementar por parte da Câmara dos Deputados. Temos R$ 19,9 bilhões que precisam ser autorizados pelo Legislativo. Isso acontece ano após ano devido à chamada Regra de Ouro, segundo a qual o Governo Federal está proibido de se endividar para custear despesas correntes.

Essa situação tornará a manutenção das IFEs algo próximo do insustentável. A UFRJ terá queda de 32% em relação ao valor atualizado de 2014. Na UFF, cujo melhor desempenho no custeio foi em 2013, a redução será de 25% em relação a este ano. NA UFPA a situação é ainda mais grave, porque seu custeio em 2021 corresponderá a 63% do valor destinado em 2013. O custeio sofre um corte de 15% em relação ao ano passado, em um orçamento que já era bastante restrito.

Por isso, as entidades classistas e estudantis da Educação Pública que subscrevem este Manifesto conclamam toda a comunidade acadêmica a lutar pela recomposição orçamentária, numa mobilização unitária que não permita que os cortes orçamentários se aprofundem ainda mais. Os cortes previstos são ainda mais cruéis se lembrarmos que, diante da pandemia, o custeio deveria estar sendo reforçado para garantir condições equivalentes com a necessidade do cumprimento de regras sanitárias necessárias à segurança de estudantes, técnico-administrativos, professores e de suas famílias.

E, ao mesmo tempo em que lutamos pela recomposição de nossos recursos, devemos reforçar a luta pela revogação da EC 95/2016, dispositivo que constitucionalizou o desmonte dos serviços públicos e a primazia do capital financeiro na destinação do fundo público brasileiro.

Autonomia e democracia: pelas posses dos reitores e diretores eleitos nas IFEs

As IFEs estão vivenciando um momento sem precedentes em sua história recente. Além de estarem atravessando os desafios da COVID-19, que tem alterado os modos de vida de toda população e ampliado as desigualdades que marcam esse país, o governo autoritário, negacionista e genocida de Bolsonaro e Mourão já interveio em várias instituições em todo país, entre elas 18 IFEs. Isso fere a autonomia e representa um grave ataque à democracia interna das Instituições.

A escolha sobre quem vai estar à frente das IFEs é uma prerrogativa da comunidade acadêmica. Ao não nomear e empossar reitores e diretores escolhidos pela maioria dentro das suas comunidades, o governo materializa suas intenções. Intervém política e ideologicamente nas IFEs com o objetivo de instrumentalizar Universidades, Institutos Federais e Cefets a serviço de um projeto de educação elitista, que atenda aos interesses do mercado, que despreze a ciência e, principalmente, desconsidere o desejo das comunidades escolares acabando com a autonomia e a democracia interna dessas instituições. As entidades classistas e estudantis da Educação exigem o cumprimento constitucional da autonomia nas Universidades, nos Institutos Federais e nos Cefets, e chamamos a necessidade de acabar com a lista tríplice e a indicação presidencial. Os processos para escolha de reitores e diretores devem começar e se encerrar nas comunidades acadêmicas.

Pandemia e Educação: vacinação para todos, já!

São mais de 184 mil mortos no Brasil. Nesta pandemia, perdemos familiares, amigos e também empregos. Não bastassem os ataques ao Sistema Único de Saúde (SUS) e as diversas ameaças para privatizá-lo – desconsiderando que de cada dez brasileiros, temos sete que dependem do SUS -, agora Bolsonaro e o Ministério da Saúde querem fazer um debate ideológico sobre a vacina. Ao mesmo tempo em que não temos um plano sólido de imunização da população, o Ministério da Educação (MEC) propõe que as aulas retornem presencialmente em 1º de março de 2021.

Fomos surpreendidos no dia 1º de dezembro pela publicação da Portaria do MEC nº 1030/2020. A referida norma estabelece, como regra, o retorno presencial das atividades nas Instituições de Ensino que fazem parte do Sistema Federal de Educação, ou seja, todas as IFEs deverão retornar às atividades no formato presencial. A portaria reafirmou a postura negacionista do Governo Federal, que durante todo o ano de 2020 trabalhou em favor do vírus e contra a saúde dos brasileiros. Temos um governo que nega a ciência e desarma todos os esforços para mitigar a disseminação do vírus em nossa sociedade e essa postura põe em risco a saúde dos docentes, estudantes e técnico-administrativos.

No momento em que os casos da COVID-19 voltaram a crescer, que os índices de transmissão também sofreram aceleração e que os sistemas público e privado de saúde voltaram a ficar saturados, reabrir de forma presencial IFEs que congregam milhares de pessoas todos os dias não só é uma temeridade sanitária como um ato criminoso.

Além disso, a Portaria é um ataque à autonomia universitária, cujos órgãos dirigentes têm sido cautelosos e responsáveis durante todo o período da pandemia. A revisão da Portaria, resultado da pressão das entidades sindicais, populares e de grupos de parlamentares, não eliminou o problema da garantia de um retorno somente após a imunização em massa da população. Trata-se aqui da defesa da vida.

Por isso, finalizamos esse Manifesto reafirmando que somente teremos segurança para retorno presencial com a vacinação em massa de nossa população.

Defendemos a vida!
Defendemos a ciência!
Não aceitaremos imposição de retorno por parte de um governo que menospreza a gravidade da pandemia!
Pela recomposição do orçamento da Educação!
Pela autonomia e democracia das IFEs!

16 de dezembro de 2020

SINASEFE
Andes-SN
ANPG
Fasubra Sindical
Fenet
Ubes
Une

Download

Baixe aqui o Manifesto da Plenária Nacional em Defesa da Educação Pública em formato PDF (tamanho A4, 4 páginas).

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