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2º ENNIQ – Resumo do 2º dia

Postagem atualizada em 08/07/2023 às 19h31

O 2º Encontro de Negras, Negros, Indígenas e Quilombolas (ENNIQ) teve seu segundo dia de atividades nesta quinta-feira (23/03).

Com atividades previstas até o próximo domingo (26/03), em Maceió-AL, o evento tem como tema “Malungas, Malungos e Parentes na terra de Palmares! Nossa luta, nosso sindicato!”.

Credenciamento

O credenciando do 2º ENNIQ continua aberto, mas já contabiliza a participação de 301 sindicalizados(as). 80% dos participantes são negras, negros, indígenas e quilombolas!

O Projeto Sinasefinho, que está em sua 5ª edição, faz o acolhimento de 22 crianças.

Resumo do dia

Neste segundo dia (23/03), tivemos quatro mesas de debate e cinco apresentações culturais no Hotel Maceió Atlantic Suites – local que sedia o Encontro. Leia abaixo o resumo das mesas e apresentações:

Mesa 2 – Aquilombar-se e aldear-se é preciso: em defesa das identidades e territorialidades no Brasil

Às 9h30min, a atividade no plenário do 2º ENNIQ foi aberta com a apresentação de capoeira de Denis Angola, que fez uma dança interativa, incluindo a participação dos presentes.

Com início próximo às 10 horas, a segunda mesa do Encontro teve como tema “Aquilombar-se e aldear-se é preciso: em defesa das identidades e territorialidades no Brasil”.

A mesa foi aberta e mediada por Camila Dornelles (Makota Oromesi). Mulher negra, Makota de Nkisi (Nzo Caxuté), ela é doutora em História e professora do Ifal. Desenvolve pesquisas na área de História do Pós-Abolição no Brasil e é membro dos grupos historiadores negros.

Como palestrantes da mesa, tivemos Leonardo Péricles (Presidente Nacional da Unidade Popular; candidato à Presidência da República nas eleições de 2022; morador de periferia e da Ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte-MG; e integrante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), Elionice Conceição Sacramento (pescadora quilombola da Raça de Filomena, da Articulação das Mulheres Pescadoras. Mestra em Sustentabilidade Junto a Povos e Territórios Tradicionais e Doutoranda em Antropologia e Antropologia Social) e Givanildo Manoel (indígena Funiô, pensador, ativista e educador popular indígena. Um dos fundadores do Tribunal Popular da Terra. Foi coordenador da 1ª Conferência Livre Popular de Indígenas em Contexto Urbano).

Leonardo Péricles abriu a fala entre os palestrantes apresentando sua luta junto ao Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) em Belo Horizonte-MG. Segundo ele, o poder popular no Brasil existe de forma micro, mas precisa ser posto na forma macro. As organizações de poder popular funcionam sem ordem do Estado: elas funcionam segundo as decisões do próprio povo. Ele lembrou que Silvio de Almeida, atual ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, pautou a necessidade das demandas do povo pobre serem atendidas. De modo incisivo, Léo Péricles frisou que para que esse atendimento seja realizado, é preciso “ir pra cima” – no sentido de se organizar e fazer toda a luta necessária.

Elionice Sacramento fez um forte discurso fincado na ancestralidade e na luta das mulheres negras. “O quilombo é terra de mulheres e no quilombo as mulheres não morrem; morre o corpo físico, mas não morre sua luta, sua história e sua resistência”, salientou após alertar que as mulheres que não se deixam dominar são estigmatizadas como “mulher-macho”, “mulher-homem”, dentre outros adjetivos. Elionice reforçou em sua fala que discutir territorialidade e identidade (o temário da mesa) é, sobretudo, discutir enfrentamento ao capitalismo.

Por fim, como último palestrante da mesa a falar, Givanildo Manoel (Giva) reivindicou o reconhecimento às lutas indígenas. Segundo ele, até o Século XVIII, as lutas indígenas contra a escravização eram as lutas hegemônicas no Brasil. Ele demonstrou que os povos originários estão fazendo um grande esforço para reconstruir o direito à memória. Para Giva, o colonocapitalismo agiu brutalmente contra os povos indígenas. Porém, para além disso, o apagamento indígena ocorre em todos os campos, inclusive no acadêmico. Ele ainda chamou a atenção para a necessidade de combate ao machismo: “nós, homens, temos uma tarefa contra o nosso machismo e ela vai se aprofundar quando falarmos das nossas dores conosco”, lembrando da oficina que ministrou ontem (22/03) sobre a desconstrução da masculinidade tóxica (que foi voltada apenas para homens).

A mesa teve, também, uma grande participação dos(as) sindicalizados(as), que fizeram muitas perguntas e dialogaram com as ideias postas pelos palestrantes.

Veja o vídeo integral da Mesa:

Mesa 3 – 10 anos das cotas raciais: em defesa das ações afirmativas e o (não) lugar do SINASEFE

Às 14h30min, a atividade no plenário do 2º ENNIQ foi aberta com a apresentação dançante de Negro da Luz e seu grupo; e também com a performance “Denegrir”, que contou com participação do público. Tivemos, ainda, uma declamação de poesia pela sindicalizada Evandina Argena, sindicalizada do Sinasefe Litoral-SC.

Com início próximo às 15 horas, a terceira mesa do Encontro teve como tema “10 anos das cotas raciais: em defesa das ações afirmativas e o (não) lugar do SINASEFE”.

A mesa foi aberta e mediada por Marlene Socorro. Filha de Zilda e Gilberto e mãe de Juliana. Uma mulher negra que se encantou desde cedo com a ciência Física. Atua na licenciatura em Física e na luta sindical, ocupando atualmente a coordenação geral do Sinasefe IFBA. Marlene cedeu parte de sua fala de abertura da mesa para Eliete Barbosa, militante histórica do movimento negro, professora aposentada do Colégio Pedro II e sindicalizada do Sindscope-RJ.

Como palestrantes da mesa, tivemos Felipe Tuxá (indígena do povo Tuxá Aldeia Mãe. Membro da Associação Brasileira de Antropologia, integrando os Comitês de Assuntos Indígenas, de Antropólogues Indígenas e de Relações Internacionais), Lígia Ferreira (professora doutora do curso de Letras-Libras e do Mestrado Profissional em Letras da Ufal. Ex-diretora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) da Ufal. Coordenadora Geral do Consórcio Nacional de Neabis e grupos correlatos) e Marcilene Garcia (pesquisadora na área de Ações Afirmativas na Educação e Cotas em Concursos Públicos. Líder do Grupo de Pesquisa Reexistência, sobre negros e povos indígenas. Diretora de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis do IFBA).

Felipe Tuxá dissertou que as universidades públicas se negaram, no início da política de cotas, a se modificarem para agregar os indígenas, mas que isso está mudando. Diversidade e inclusão não chegaram de maneira gratuita ao movimento indígena, mas foi uma conquista do mesmo. Um dos debates no movimento, agora, tem sido sobre a importância dos que entram no ensino superior em dar uma “devolutiva” à aldeia com a formação alcançada. Felipe convidou todos a pensarem sobre seus lugares nesse debate sobre a luta dos povos por inclusão e aceitação; e enfatizou a gravidade da situação: “eu estou falando de dor, como vou falar do genocídio do meu povo sem raiva e sorrindo para vocês?”

Lígia Ferreira denunciou que os povos originários estão sob extermínio por uma política de não-existência e defendeu as políticas afirmativas. Ela demonstrou que pessoas negras, pessoas com deficiência (PCDs) e indígenas não estão tentando tirar vagas de outras pessoas, mas apenas buscando os seus lugares. Para Lígia, as Instituições Federais de Ensino (IFEs) possuem muito mais cotas sociais do que raciais. Ela afirmou, ainda, que falar de políticas de ações afirmativas é falar sobre a inserção das pessoas nos espaços de formação para inserção delas nos espaços de poder: “as políticas de ações afirmativas foram construídas pensando toda nossa ancestralidade; o espaço acadêmico começou a se transformar como efeito dessas políticas, com estímulo à produção e reprodução científica, artística e cultural afro-brasileira e indígena aliada à divulgação”.

Marcilene Garcia fez uma palestra muito entusiasmante e importante, falando que a população negra é a população que tem pobreza de renda e pobreza política e que, por isso, é a população que precisa adentrar nos espaços de poder para, assim, formular políticas públicas de qualidade. Ela ressaltou a importância do protagonismo do movimento negro. “Precisamos ter compreensão das ações afirmativas e do tamanho que elas têm, políticas de promoção de igualdade de oportunidades devem ser para os grupos que sofreram injustiças históricas e precisam de reparação”, falou.

A mesa teve ao seu final uma grande participação dos(as) sindicalizados(as), que fizeram perguntas e considerações em consonância às falas dos palestrantes.

Mesa 4 – A arte como resistência étnica: linguagens e expressões em movimento de resistência no Brasil

Às 17h40min, tivemos a performance do Slam das Minas Maceió, com fortes falas contra o racismo e contra a opressão às negras, aos negros, às/aos indígenas e às/aos quilombolas. Uma verdadeira aula de história do Brasil e da formação da nossa sociedade nos versos da população da periferia!

Após o Slam das Minas Maceió, o evento foi pausado para um coffee break e retornou às 19 horas com a quarta mesa do Encontro, que teve como tema “A arte como resistência étnica: linguagens e expressões em movimento de resistência no Brasil”.

A mesa foi aberta e mediada por Richard Plácido. Escritor e mestre em estudos literários. Organizador da coletânea “QUEBRA: poesia negra mcz”. Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do Ifal. Editor do selo independente multiplataforma “Loitxa Lab”. Livreiro da Novo Jardim Livraria e Café.

Como palestrantes da mesa, tivemos Ana Fátima dos Santos (licenciada em Letras Vernáculas; Mestra e Doutoranda pelo Programa em Crítica Cultural da Uneb. É ativista do Movimento Negro, Iya Egbe do Ilê Axé Iboro Odé, e editora do Ereginga Educação), Maria Rosalina (integrante do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais Quilombola. Coordenadora Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí. E integrante da Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas do Brasil) e Marcelo Tingui Botó (Cineasta Indígena, fundador do Coletivo Audiovisual Tingui Filmes, pesquisador indígena e integrante do Movimento Intelectual Indígena no Nordeste. É formado em Ciências Biológicas pelo Ifal).

Ana Fátima dos Santos falou que a arte desperta a criança em cada um(a) de nós e completou dizendo que cada criança traz consigo o legado da ancestralidade. Para ela, é a partir da arte que os sonhos são abraçados, alimentados e realizados.

Maria Rosalina entende a arte como mais do que cultura. Para ela, “a arte é a beleza que se tem na vida, é todo nosso ser”. Todo o modo de vida no quilombo e a resistência quilombola são expressões artísticas. Rosalina defendeu que arte e resistência andam juntas e são os elementos que movem o povo explorado para a luta, tornando-o capaz de enfrentar qualquer desafio.

O cineasta indígena Marcelo Tingui Botó denunciou a exclusão e a invisibilização dos povos originários do processo de construção do Brasil. Ele entende o cinema como uma arte que imortaliza a representação, mas que não foi feito para os excluídos. Daí a importância do seu cinema de guerrilha: “procuramos resistir da forma mais original possível, com a arte e as ciências do nosso território”, frisou.

A mesa teve participação dos(as) sindicalizados(as), que fizeram perguntas aos palestrantes após suas falas.

Veja o vídeo da Mesa:

Mesa 5 – Contra o racismo religioso: pela liberdade dos cultos das religiões de matrizes africanas e cosmologias indígenas

Às 20h40min, tivemos a performance de Leide Serafim, que fez uma dança afro muito animada no plenário do evento.

E a partir das 20h55min iniciou-se a quinta mesa do Encontro, com o tema “Contra o racismo religioso: pela liberdade dos cultos das religiões de matrizes africanas e cosmologias indígenas”.

A mesa foi mediada e aberta por Katiuscia Pinheiro. Professora de Sociologia no campus Itapecuru Mirim do IFMA. Desenvolve pesquisas nas áreas de gênero, interseccionalidade e decolonialidade. É associada na Wyka Kwara (associação multiétnica de indígenas remanescentes), onde compõe o Grupo de Trabalho de Espiritualidade.

Como palestrantes da mesa, tivemos Pai Alex (Sacerdote Candomblecista, Juremeiro, Mestre de Cultura Popular, Tocador de pífano, Sócio-fundador e líder da ONG “Casa de Caridade de Candomblé Ilè Axé Odadara Xangô Agodô”. Foi protagonista do documentário “O Juremeiro de Xangô”), Mãe Bárbara, também conhecida como Mametu Kafurengá (Sacerdotisa Afro, licenciada em Pedagogia. É dirigente da Nzo Kwa Minkisi Nkasuté ye Kitembu Mvila e é membra da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros) e Sassá Tupinambá (Xamã na tradição Tupinambá. Ativista indígena e terapeuta naturopata – Aondê Natural. Tem experiência na área de saúde, com ênfase em naturopatia. Coordenador do projeto “Há Indígenas em SP” e fundador do canal do Youtube TV Tamuya).

Pai Alex começou se apresentando como um descendente da “quebra dos terreiros”, episódio triste da história de Alagoas quando, em 1912, todos os terreiros de religiões de matriz africana foram violentamente atacados. Ele narrou que, por ser juremeiro, sofreu preconceito durante toda sua vida, chegando inclusive a não conseguir completar os estudos em virtude disso. “Enquanto o povo negro e os sacerdotes de umbanda não se unirem para formar a bancada do axé, não vai haver política pública contra o racismo religioso”, opinou.

Mãe Bárbara, a querida Mametu Kafurengá, demonstrou todo seu carinho com os presentes: “eu tenho carinho pelo povo e gosto de ficar com o povo”. Sua palestra começou com um vídeo, no qual ela apresentou a Comunidade de Terreiro do Campo Bantu-Indígena Caxuté, que fica na Costa do Dendê (Baixo Sul da Bahia). Abordando a ancestralidade brasileira de indígenas, negras e negros, ela falou de seu contato com a educação dos quilombos: “eu acredito na pedagogia do terreiro, a nossa escola é uma escola do terreiro e não no terreiro”. Mãe Bárbara afirmou que a academia “ensina muito pouco” e que, por isso, os povos tradicionais fazem questão de “trocar experiências nos quilombos e aldeias”. Ela falou: “devemos acreditar em nós, pretos e pretas, pois se não fizermos isso, ninguém o fará por nós”.

E como último palestrante da mesa, Sassá Tupinambá trouxe um panorama sobre a luta indígena e falou da importância de conhecê-la. Na visão dele, a cultura indígena possui “formas diferentes e diversificadas de lidar com o mundo”. Ele cobrou respeito às crenças dos povos tradicionais: “por que os outros têm religião e nós temos cosmovisão?”, indagou. Para Sassá Tupinambá, precisamos saber onde estamos para não cometer racismo contra a crença dos outros.

Quatro sindicalizados(as) fizeram perguntas ao final da mesa. E após as respostas e considerações finais dos palestrantes, quando o relógio já marcava 22hxxmin, tivemos uma apresentação do grupo de coco de roda (tradicional dança nordestina) Xique Xique, que finalizou o segundo dia de atividades do 2º ENNIQ.

Veja o vídeo integral da Mesa:

Fotos

Veja abaixo mais fotos do segundo dia do 2º ENNIQ disponíveis em nossa galeria de imagens:

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* Matéria editada às 17h30min de 07/07/2023 com inserção de vídeos